Os registos oficiais indicam que Vanessa Fernandes ganhou a medalha de prata, em Pequim, depois de nadar 1,5 quilómetros, pedalar 40 quilómetros e correr durante outros 10 quilómetros em 1 hora 59 minutos e 34 segundos. É isso que fica na história. Mas é, no entanto, uma pequena parte da história.
Para se conhecer a verdadeira história desta medalha (histórica!) para o desporto português é preciso recuar, no mínimo sete anos, quando uns «visionários» na Federação de Triatlo decidiram fazer um plano a que chamaram «Projecto Pequim 2008». Nele, estava já o objectivo de levar um conjunto de tri-atletas aos Jogos na capital chinesa, entre os quais se incluía uma tal Vanessa Fernandes que começava a dar sinais de grande capacidade nas provas amadoras em que participava.
Pode parecer impossível uma coisa destas acontecer no Portugal do contínuo improviso e do desenrasca, mas tudo o que aconteceu a seguir foi de acordo com aquele plano.
Com etapas bem definidas e que pontuaram, de forma exemplar, a evolução de uma atleta e de uma modalidade. Há dois momentos que marcaram tudo: primeiro, a escolha de Vanessa em dedicar-se, por inteiro, à alta competição, saindo da casa dos pais, no Perosinho, aos 16 anos, e passando a residir a tempo inteiro no Centro de Alto Rendimento, no Jamor; depois, o oitavo lugar, aos 18 anos, nos Jogos Olímpicos de Atenas, na sua estreia ao nível mais elevado.
«Foi nesse momento que decidi que era isto que queria, que era possível alcançar o meu sonho de uma medalha olímpica», confessou hoje, depois de cumprido o sonho.
Desde Atenas, toda a sua carreira foi pensada, gerida e planeada a pensar em Pequim. Como ela é a primeira a reconhecer, a sua medalha nunca teria sido possível sem o trabalho e o apoio de todos os que a rodearam ao longo desse ciclo. Por isso, ela recorda, com gratidão, as metas bem definidas pelos seus treinadores Sérgio Santos e António Jourdan («eles são, em conjunto, o treinador perfeito», diz), o apoio constante dos atletas com quem ela costuma treinar, em especial o também olímpico Bruno Pais («é ele que eu tento seguir nos treinos, que puxa mais por mim»), o carinho das pessoas em Portugal e, claro, o bom ambiente e confiança que sempre encontrou na família.
A medalha de prata conquistada por Vanessa Fernandes em Pequim é, naturalmente, um prémio ao seu talento, dedicação, capacidade de trabalho e de sacrifício. Mas é também um prémio muito especial à capacidade de planeamento, ao esforço dedicado e à paixão de todos os que estiveram em seu redor ao longo dos últimos sete anos. É essa lição, se bem apreendida, que pode fazer da medalha de Vanessa Fernandes um ponto de viragem na evolução do desporto em Portugal.
terça-feira, 19 de agosto de 2008
Vanessa: Uma medalha planeada
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1 comentário:
Bem visto.
Já agora gostava de ver este tipo de artigos e comentários na Visão, na sua cobertura dos J.O. Bom trabalho!
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