domingo, 24 de agosto de 2008

Pequim: Para acabar de vez com a (polémica da) poluição

Durante meses fomos inundados com informações constantes sobre a poluição em Pequim e o seu perigo para os atletas nas provas de resistência. Parecia que os Jogos se iam realizar num ambiente típico das piores descrições de Charles Dickens.
O resultado da maratona masculina, no último dia dos Jogos, encarregou-se de provar que afinal também neste campo se andou a brincar, demasiado, com o fogo. Ou antes: que existiu muita manobra de propaganda e contra-informação.
A verdade é que o queniano Samuel Kamau Wansiru destruiu, em duas horas, seis minutos e 32 segundos tudo o que se andou a dizer sobre a poluição, o calor e a humidade em Pequim. Naquele tempo, ele conseguiu aquilo que ninguém, nos ambientes «puros» de Seul, Barcelona, Atlanta, Sydney e Atenas tinha conseguido: bater o velhinho recorde olímpico de Carlos Lopes, estabelecido na maratona dos Jogos de Los Angeles, em 1984. Wansiru consegui-o. E ninguém o viu tossir ou correr com máscara de oxigénio.

Pequim: A chama apagou-se


Os Jogos terminaram. Exactamente como estava previsto. Mas algo me diz que a sua memória permanecerá durante muito tempo. Até porque nestes dias em Pequim fomos todos testemunhas de um momento histórico que decerto será recordado e muitas vezes apontado no futuro.
Em termos desportivos, estes foram dos Jogos melhores de sempre com 43 recordes mundiais e 132 recordes olímpicos. E a consagração de dois «monstros sagrados» que reescreveram o livro dos recordes: Michael Phelps e Usain Bolt.
Em termos históricos, estes foram os Jogos da afirmação plena da China como grande potência mundial. Pode ser que muitos ainda não se tenham apercebido disso, mas os próximos anos vão prová-lo à saciedade.
A História encarregar-se-à do resto.

sábado, 23 de agosto de 2008

Futebol: Argentina é campeã olímpica

A Argentina revalidou o título de campeã olímpica de futebol, ao derrotar a Nigéria por 1-0, com um golo marcado pelo benfiquista Di Maria.
O encontro foi a reedição da final olímpica dos Jogos 1996, mas com um resultado contrário. Em Atlanta, venceu a Nigéria, por 3-2, com o golo decisivo a ser apontado no último minuto pelo então sportinguista Emanuel Amunike.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Pequim: A felicidade de Leevan Sands


É uma imagem habitual nos pódios: geralmente, os medalhados de prata estão com um ar desiludido, enquanto os de bronze, muitas vezes, parecem mais felizes do que até os de ouro. Compreende-se: uns acabaram de perder o ouro, enquanto os outros conseguiram, acima de tudo, entrar nas medalhas.
O pódio do triplo salto era exactamente assim. De tal forma, que muito tempo depois do final da cerimónia, o terceiro classificado, Leevan Sands, das Bahamas, continuava a passear pelos corredores do «Ninho de Pássaro» com a sua medalha de bronze ao pescoço. E fazia um sucesso incrível, nomeadamente entre as chinesas que pediam para ser fotografados junto a um medalhado olímpico.
Mas não só. A certa altura, aproximaram-se uns senhores de ar respeitável e começaram a conversar com o feliz medalhado. E também quiseram ser fotografados com ele. Só que um desses senhores é uma lenda viva do atletismo mundial, com duas medalhas de ouro e uma de prata em Jogos Olímpicos: o norte-americano Edwin Moses, o melhor atleta que o mundo já viu a correr os 400 metros barreira.
Olhem só para ele a sorrir junto do feliz Sands.

Pequim: O 'reggae-power'


Há 40 anos, os Jogos Olímpicos do México ficaram marcados pelo «black power», com Tommie Smith e John Carlos a erguerem o punho enquanto era tocado o hino dos EUA, durante a cerimónia de entrega de medalhas nos 200 metros. Em Pequim estamos definitivamente na era do «reggae power», depois de assistirmos, noite após noite, às fantásticas prestações dos velocistas jamaicanos que só não arrebataram todas as medalhas das provas de velocidade porque a estafeta feminina falhou uma transmissão na final dos 4x100 metros.
A prova da superioridade jamaicana foi dada há cerca de três horas com a pulverização do recorde do mundo dos 4x100 metros masculinos. Os dois segmentos finais, protagonizados por Usain Bolt (mas que curva incrível!) e Asafa Powell (aquilo, sim, é velocidade terminal!) merecem ficar na história destes Jogos Olímpicos.

Medalhas: As contas de Bolt e Phelps


É também assim que se pode avaliar as prestações dos dois mais extraordinários atletas destes Jogos Olímpicos de Pequim: em que lugar da classificação geral estariam se fossem países?
A resposta é esclarecedora a dois dias do final das competições.
Michael Phelps, com as suas oito medalhas de ouro, estaria classificado em 9.º lugar da geral, apenas superado pela China, Estados Unidos, Grã-Bretanha, Rússia, Alemanha, Austrália e Coreia do Sul, mas à frente da Itália, Holanda, Jamaica, França, Ucrânia e Espanha.
Usain Bolt, com as suas três medalhas de ouro (e outros tantos recordes do mundo, já agora...), ficaria num honroso 24.º lugar, mas imediatamente à frente de potências desportivas como Cuba e o Quénia.

Nelson Évora: Olha que medalha mais linda


Mal terminou o hino e teve autorização para sair do pódio, Nelson Évora só tinha olhos para aquela medalha dourada que lhe tinham pendurado ao pescoço. Durante todo o caminho, desde o pódio até aos fotógrafos, foi sempre a olhar para a medalha. Mais tarde, a falar com os jornalistas, nunca a deixava de a agarrar e acariciar com as mãos. Queria senti-la. Era sua.

Nelson Évora: O campeão discreto

O tom de voz é sempre o mesmo. Bem como o estilo. Nelson Évora é aquilo a que se costuma chamar um rapaz bem educado e gentil. Desde o primeiro dia, quando chegou à Aldeia Olímpica, tem sido de uma correcção extraordinária para com todos, incluíndo os jornalistas. Logo à chegada, apesar da longa viagem e do inevitável jet-lag, acedeu a falar com todos por causa da sua escolha para porta-bandeira na cerimónia de abertura.
Sobre a duração da noite em que se sagrou olímpico já está tudo explicado no post anterior.
Mas há sempre uma altura em que já não zsse aguenta mais. Foi há, depois de receber a medalha de ouro e ouvir o hino nacional no lugar mais alto do pódio. Regressou à zona mista, falou com os jornalistas, mas quando lhe pediram para voltar a fazer a ronda das televisões, com mais uns directos em estúdio, Nelson, com o tom e o estilo de sempre disse: «Não, desculpem mas não. Só dormi uma hora e meia esta noite. Deixem-me agora ir ver as provas de atletismo.»
Ninguém foi capaz sequer de insistir. E Nelson lá foi, sozinho, pelo túnel em direcção a um lugar discreto das bancadas do «Ninho de Pássaro». É ali que está, neste momento, anónimo no meio da multidão, mas com uma medalha de ouro no bolso.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Nelson Évora: A noite mais longa

Quem julga que a conquista de uma medalha olímpica, ainda por cima de ouro, dá direito a uma ruidosa e bem regada festa, está completamente enganado. Pelo menos, em relação a Nelson Évora.
Desde que deu o seu sexto e último salto na pista, o atleta português tem andado numa completa roda-viva. Depois de sair da pista, passou pelas zonas mistas, para declarações, faseadas, à RTP, depois à RDP e, finalmente, aos representantes da Imprensa escrita. Pelo meio, recebeu as felicitações, por telefone, de diversas personalidades, entre as quais o primeiro-ministro, José Sócrates, e do presidente da Federação de Atletismo, Fernando Mota. De corpo presente recebu abraços e parabéns do secretário de Estado do Desporto, do presidente do Comité Olímpico de Portugal e da quase totalidade do estado-maior da missão portuguesa.
Terminados os abraços seguiu para o controlo anti-doping que resolveu em coisa de meia hora (Vanessa Fernandes, na segunda-feira tinha demorado duas horas...). Depois, foi à conferência de Imprensa obrigatória para todos os medalhados, na cave do «Ninho de Pássaro», de onde seguiu, de carro, para o único restaurante português em Pequim, A Nuvem, para jantar com a namorada, o irmão e o casal Ganço.
Após o jantar falou novamente com os jornalistas, mas por volta das 2.30 da manhã em Pequim teve que se despedir outra vez da namorada para o compromisso final: ir aos estúdios da RTP, em Pequim, para ser entrevistado em directo no Telejornal e, em seguida, mudar de estúdio e ser entrevistado para o jornal da SIC. Contas feitas, só por volta das 4 horas da manhã é que o novo campeão olímpico do triplo salto ficou livre para poder regressar à Aldeia Olímpica e dormir. Com a medalha de ouro ao lado.

Nelson Évora: O casal mais feliz no «Ninho»


Depois de Nelson Évora, o alvo de maior número de felicitações era, naturalmente, o treinador João Ganço. Mas, estranhamente, passava o tempo a olhar em redor, varrendo com os olhos as bancadas superiores. Recebia um abraço e olhava em volta. Davam-lhe mais uma palmada nas costas e ele olhava em volta. Até que, finalmente, chegou Margarida, a sua mulher, com um chapéu tradicional chinês e o rosto pintado com as cores da bandeira nacional. O abraço foi emotivo e prolongado, entre os dois. E as lágrimas correram. Quando, finalmente, desatou o nó da garganta, João Ganço gritou: «Campeão olímpico!!!!!!!» E voltaram a agarrar-se.
João e Margarida não foram os únicos a ficar com lágrimas em Pequim.

Nelson Évora: Os primeiros festejos


Depois de se sagrar campeão olímpico, Nelson Évora correu para abraçar o seu treinador (o único que teve em toda a sua carreira), João Ganço. Depois, pegou na bandeira nacional que tinha trazido de Portugal repleta de mensagens de apoio dos seus amigos e deu a volta de honra ao estádio. E terminou essa volta precisamente no sítio onde a tinha iniciado, em frente do local de saltos e junto às bancadas onde se concentravam os atletas portugueses que o quiseram ir ver. Com eles ficou cerca de 10 minutos, a receber felicitações, a tirar fotografias, até a atender mensagens dos telemóveis que lhe passavam para a mão. Quem é que falava em «ambiente de revolta» no seio da equipa olímpica?

Nelson Évora: Uma classificação memorável


O écran gigante do «Ninho de Pássaro» diz tudo: Nelson Évora passou a ser o quarto campeão olímpico da história do desporto nacional, juntando o seu nome aos de Carlos Lopes, Rosa Mota e Fernanda Ribeiro.

Nelson Évora: Campeão olímpico

Nelson Évora acaba de ganhar a medalha de ouro!!! O Hino nacional vai ser tocado no «Ninho de Pássaro».

Nelson Évora: Já tem medalha

Nelson Évora já garantiu um lugar no pódium. Ainda faltam mais dois concorrentes saltarem, mas o terceiro lugar, pelo menos, já está garantido

Nelson Évora: Um último salto

Nelson Évora vai encerrar o concurso do triplo salto. Como lidera a classificação, terá direito ao último salto da final. Uma vantagem que pode ser aproveitada. E se até lá ninguém superar os seus 17,67m até pode prescindir desse salto.

Nelson Évora: quinto salto a 17,24m

Pela primeiria vez nesta final, Nelson Évora deixou de progredir. Ao quinto salto fez apenas 17,24. Assim, continua a valer a sua melhor marca, o quarto salto, com 17,67m, com o qual lidera o concurso.