quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Pequim: Lição de caligrafia



Entrei na loja que anunciava, na montra, vender verdadeiras antiguidades. Só lá estava um velhote, em tronco nu, e meia dúzia de expositores com meia dúzia de peças cada, mas sem nada de interessante. Mas foi uma das melhores experiências do dia.
Ao ver o estrangeiro, o velhote levantou-se. E começou a falar comigo. Genuinamente, queria estabelecer comunicação. Mas, curiosamente, não me mostrava qualquer artigo ou peça, nem me puxava pelo braço para me mostrar as «verdadeiras antiguidades» numa sala protegida (como já me tinha sucedido noutras lojas da rua Liulichang.
Falava, falava e tentava perceber o que estava escrito na credencial que transporto pendurada ao pescoço (regra n.º 1 quando se está nos Jogos Olímpicos: nunca, mas nunca tirar a credencial do pescoço, andar sempre com ela o dia todo - se a perdemos... temos que voltar para casa).
Tentando ajudá-lo, ia repetindo: Pu-tao-ya. É assim que se diz Portugal em chinês.
Mas ele, continuava a não perceber.
Foi, então, que pegou num enorme pincel e mo passou para as mãos, ao mesmo tempo que apontava para o chão. Queria que eu escrevesse o nome do país.
Foi o que tentei, após molhar o pincel na água. Apesar do erro ortográfico (sabia lá como se escrevia Pu-tao-ya, só sei repetir a palavra ao longo do dia!) ele identificou logo o nome do meu país. Afinal a minha pronúncia é que não estava a funcionar...
Em seguida, um momento mágico: o velhote pegou no pincel e, com uma destreza e elegância notáveis, começou a escrever os caracteres chineses que correspondem a Pu-tao-ya. E, como não gostou da forma como lhe «saíu» um caracter, escolheu outro bocado de chão e repetiu a graça - foi aí que o fotografei.
Após mais um bocado de «conversa», exemplificou o que conhecia de Pu-tao-ya: correu dois passos e deu um pontapé no ar.
«Futebol» - disse-lhe eu.
«C Ronaldo» - respondeu-me ele.
Despedimo-nos com um abraço.

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