A cultura desportiva em Portugal é um mistério difícil de compreender. E a paixão desportiva, então, é um enigma ainda mais indecifrável.
Expliquem-me, por favor, qual é a diferença entre perder 108-13 com a Nova Zelândia em rugby ou terminar uma corrida de 10 mil metros, no Estádio Olímpico de Pequim, com uma volta de atraso face ao etíope Bekele?
Em Portugal, pelos menos observado à distância, a diferença parece ser enorme: ou já está tudo esquecido que, há um ano, o país vibrava com a selecção de rugby, mais a sua «proeza» de perder todos os quatro desafios do Mundial, em França? Agora, parece que anda tudo deprimido porque não conseguimos ganhar medalhas nos Jogos Olímpicos (e, às vezes, até parece que mesmo a conquistada pela Vanessa Fernandes não vale por que não foi de ouro!).
E em que é que se distingue uma derrota por 56-10, ainda em rugby, com a Escócia ou uma derrota, por decisão dos árbitros, frente ao campeão asiático, como sucedeu ao judoca João Neto, em Pequim?
A única diferença, de facto, é que uns cantam o Hino como uns lobos, enquanto os outros (alguns) se portam e falam como uns patinhos… prontinhos para pôr a assar no banquete das frustrações que se repete, em Portugal, todos os quatro anos.
Convinha, assim, começar a olhar para isto tudo com menos paixão. E explicar que grande parte dos atletas que viajaram para Pequim está num nível exactamente igual ao dos «gloriosos Lobos» do Mundial de França: o seu prémio é terem-se qualificado para os Jogos Olímpicos, como o dos homens do rugby foi o terem conseguido ir a França (ou já ninguém se lembra dos «heróis de Montevideu»?). Depois, a outra grande parte são atletas que buscam aquilo que os «Lobos» também procuraram no seu Mundial: fazer uma gracinha (no caso do rugby era ganhar à Roménia, o que não foi conseguido).
Sobram, assim, uns 10 atletas (em 77, note-se) com hipóteses de chegarem às finais e, aí, tentarem uma proeza.
O problema, de facto, foi a gestão das expectativas e ter-se definido, como objectivo, a conquista de quatro medalhas, quando apenas tínhamos, no máximo, cinco atletas para essa tarefa. Assim, o desastre começou a anunciar-se mal a judoca Telma Monteiro caiu eliminada. Logo no segundo dia de competição, já se tinha esgotado a margem de erro.
Foi assim, de derrota em derrota, que se chegou ao surrealismo final: segundo ouvi dizer, o quarto lugar de Gustavo Lima, na vela, também foi considerado um fracasso, em Portugal. Exactamente no mesmo país que se engalanou para receber a selecção de futebol no Estádio Nacional, após uma classificação igual no Mundial de 2006.
Claro que os resultados em Pequim estão a ser medíocres. Mas o surpreendente era que fossem bons. O desporto não se desenvolve apenas com a atribuição de bolsas aos atletas de alta competição. É preciso, acima de tudo, estruturas para detectar talentos, enquadrá-los e fazê-los evoluir para nível internacional. E aí, estou como diz a Vanessa Fernandes: «Em Portugal há talento como o caraças… é preciso é saber aproveitá-lo.»
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
Polémicas: Os 'lobos' e os patinhos de Pequim
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4 comentários:
O problema não foram as derrotas, mas sim os comentários infelizes de alguns atletas.
artigo infeliz...comparar alhos com bugalhos.
esta visto que não percebe nada nem de olimpiadas e muito menos de rugby....
Porque não compara com os "animais " do futebol?
Não convem? ou será q esses sim ganham tudo e são como os media os chamam uma seleção campeã...
Não poderia estar mais de acordo com o que foi dito na crónica.
Ao invés, tendo em conta os anteriores comentários, quem parece ter mais crédito no nosso país é o jornalismo troglodita que denomina esta jornada a Pequim, como um desastre olímpico.
Agora que Nelson Évora acaba de ganhar uma medalha de ouro, será que vão continuar a bater na mesma tecla?
Muito dificilmente. Pois, até que ponto as imagens deste atleta na capa de um jornal como o grande vencedor do triplo-salto, não serão melhores para o "negócio" de vendas!?
Concordo com o pepezito!
E gostei da comparação muito ,muito pertinente do 4º lugar do Gustavo Lima com 4º lugar da Selecçao de futebol do mundial de 2006.
Toca a ter mais pragmatismo e perceber o que somos e o que não somos. Nem orgulhos exagerados nem crucificações dos que são nossos compatriotas.
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