domingo, 24 de agosto de 2008

Pequim: Para acabar de vez com a (polémica da) poluição

Durante meses fomos inundados com informações constantes sobre a poluição em Pequim e o seu perigo para os atletas nas provas de resistência. Parecia que os Jogos se iam realizar num ambiente típico das piores descrições de Charles Dickens.
O resultado da maratona masculina, no último dia dos Jogos, encarregou-se de provar que afinal também neste campo se andou a brincar, demasiado, com o fogo. Ou antes: que existiu muita manobra de propaganda e contra-informação.
A verdade é que o queniano Samuel Kamau Wansiru destruiu, em duas horas, seis minutos e 32 segundos tudo o que se andou a dizer sobre a poluição, o calor e a humidade em Pequim. Naquele tempo, ele conseguiu aquilo que ninguém, nos ambientes «puros» de Seul, Barcelona, Atlanta, Sydney e Atenas tinha conseguido: bater o velhinho recorde olímpico de Carlos Lopes, estabelecido na maratona dos Jogos de Los Angeles, em 1984. Wansiru consegui-o. E ninguém o viu tossir ou correr com máscara de oxigénio.

Pequim: A chama apagou-se


Os Jogos terminaram. Exactamente como estava previsto. Mas algo me diz que a sua memória permanecerá durante muito tempo. Até porque nestes dias em Pequim fomos todos testemunhas de um momento histórico que decerto será recordado e muitas vezes apontado no futuro.
Em termos desportivos, estes foram dos Jogos melhores de sempre com 43 recordes mundiais e 132 recordes olímpicos. E a consagração de dois «monstros sagrados» que reescreveram o livro dos recordes: Michael Phelps e Usain Bolt.
Em termos históricos, estes foram os Jogos da afirmação plena da China como grande potência mundial. Pode ser que muitos ainda não se tenham apercebido disso, mas os próximos anos vão prová-lo à saciedade.
A História encarregar-se-à do resto.

sábado, 23 de agosto de 2008

Futebol: Argentina é campeã olímpica

A Argentina revalidou o título de campeã olímpica de futebol, ao derrotar a Nigéria por 1-0, com um golo marcado pelo benfiquista Di Maria.
O encontro foi a reedição da final olímpica dos Jogos 1996, mas com um resultado contrário. Em Atlanta, venceu a Nigéria, por 3-2, com o golo decisivo a ser apontado no último minuto pelo então sportinguista Emanuel Amunike.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Pequim: A felicidade de Leevan Sands


É uma imagem habitual nos pódios: geralmente, os medalhados de prata estão com um ar desiludido, enquanto os de bronze, muitas vezes, parecem mais felizes do que até os de ouro. Compreende-se: uns acabaram de perder o ouro, enquanto os outros conseguiram, acima de tudo, entrar nas medalhas.
O pódio do triplo salto era exactamente assim. De tal forma, que muito tempo depois do final da cerimónia, o terceiro classificado, Leevan Sands, das Bahamas, continuava a passear pelos corredores do «Ninho de Pássaro» com a sua medalha de bronze ao pescoço. E fazia um sucesso incrível, nomeadamente entre as chinesas que pediam para ser fotografados junto a um medalhado olímpico.
Mas não só. A certa altura, aproximaram-se uns senhores de ar respeitável e começaram a conversar com o feliz medalhado. E também quiseram ser fotografados com ele. Só que um desses senhores é uma lenda viva do atletismo mundial, com duas medalhas de ouro e uma de prata em Jogos Olímpicos: o norte-americano Edwin Moses, o melhor atleta que o mundo já viu a correr os 400 metros barreira.
Olhem só para ele a sorrir junto do feliz Sands.

Pequim: O 'reggae-power'


Há 40 anos, os Jogos Olímpicos do México ficaram marcados pelo «black power», com Tommie Smith e John Carlos a erguerem o punho enquanto era tocado o hino dos EUA, durante a cerimónia de entrega de medalhas nos 200 metros. Em Pequim estamos definitivamente na era do «reggae power», depois de assistirmos, noite após noite, às fantásticas prestações dos velocistas jamaicanos que só não arrebataram todas as medalhas das provas de velocidade porque a estafeta feminina falhou uma transmissão na final dos 4x100 metros.
A prova da superioridade jamaicana foi dada há cerca de três horas com a pulverização do recorde do mundo dos 4x100 metros masculinos. Os dois segmentos finais, protagonizados por Usain Bolt (mas que curva incrível!) e Asafa Powell (aquilo, sim, é velocidade terminal!) merecem ficar na história destes Jogos Olímpicos.

Medalhas: As contas de Bolt e Phelps


É também assim que se pode avaliar as prestações dos dois mais extraordinários atletas destes Jogos Olímpicos de Pequim: em que lugar da classificação geral estariam se fossem países?
A resposta é esclarecedora a dois dias do final das competições.
Michael Phelps, com as suas oito medalhas de ouro, estaria classificado em 9.º lugar da geral, apenas superado pela China, Estados Unidos, Grã-Bretanha, Rússia, Alemanha, Austrália e Coreia do Sul, mas à frente da Itália, Holanda, Jamaica, França, Ucrânia e Espanha.
Usain Bolt, com as suas três medalhas de ouro (e outros tantos recordes do mundo, já agora...), ficaria num honroso 24.º lugar, mas imediatamente à frente de potências desportivas como Cuba e o Quénia.

Nelson Évora: Olha que medalha mais linda


Mal terminou o hino e teve autorização para sair do pódio, Nelson Évora só tinha olhos para aquela medalha dourada que lhe tinham pendurado ao pescoço. Durante todo o caminho, desde o pódio até aos fotógrafos, foi sempre a olhar para a medalha. Mais tarde, a falar com os jornalistas, nunca a deixava de a agarrar e acariciar com as mãos. Queria senti-la. Era sua.

Nelson Évora: O campeão discreto

O tom de voz é sempre o mesmo. Bem como o estilo. Nelson Évora é aquilo a que se costuma chamar um rapaz bem educado e gentil. Desde o primeiro dia, quando chegou à Aldeia Olímpica, tem sido de uma correcção extraordinária para com todos, incluíndo os jornalistas. Logo à chegada, apesar da longa viagem e do inevitável jet-lag, acedeu a falar com todos por causa da sua escolha para porta-bandeira na cerimónia de abertura.
Sobre a duração da noite em que se sagrou olímpico já está tudo explicado no post anterior.
Mas há sempre uma altura em que já não zsse aguenta mais. Foi há, depois de receber a medalha de ouro e ouvir o hino nacional no lugar mais alto do pódio. Regressou à zona mista, falou com os jornalistas, mas quando lhe pediram para voltar a fazer a ronda das televisões, com mais uns directos em estúdio, Nelson, com o tom e o estilo de sempre disse: «Não, desculpem mas não. Só dormi uma hora e meia esta noite. Deixem-me agora ir ver as provas de atletismo.»
Ninguém foi capaz sequer de insistir. E Nelson lá foi, sozinho, pelo túnel em direcção a um lugar discreto das bancadas do «Ninho de Pássaro». É ali que está, neste momento, anónimo no meio da multidão, mas com uma medalha de ouro no bolso.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Nelson Évora: A noite mais longa

Quem julga que a conquista de uma medalha olímpica, ainda por cima de ouro, dá direito a uma ruidosa e bem regada festa, está completamente enganado. Pelo menos, em relação a Nelson Évora.
Desde que deu o seu sexto e último salto na pista, o atleta português tem andado numa completa roda-viva. Depois de sair da pista, passou pelas zonas mistas, para declarações, faseadas, à RTP, depois à RDP e, finalmente, aos representantes da Imprensa escrita. Pelo meio, recebeu as felicitações, por telefone, de diversas personalidades, entre as quais o primeiro-ministro, José Sócrates, e do presidente da Federação de Atletismo, Fernando Mota. De corpo presente recebu abraços e parabéns do secretário de Estado do Desporto, do presidente do Comité Olímpico de Portugal e da quase totalidade do estado-maior da missão portuguesa.
Terminados os abraços seguiu para o controlo anti-doping que resolveu em coisa de meia hora (Vanessa Fernandes, na segunda-feira tinha demorado duas horas...). Depois, foi à conferência de Imprensa obrigatória para todos os medalhados, na cave do «Ninho de Pássaro», de onde seguiu, de carro, para o único restaurante português em Pequim, A Nuvem, para jantar com a namorada, o irmão e o casal Ganço.
Após o jantar falou novamente com os jornalistas, mas por volta das 2.30 da manhã em Pequim teve que se despedir outra vez da namorada para o compromisso final: ir aos estúdios da RTP, em Pequim, para ser entrevistado em directo no Telejornal e, em seguida, mudar de estúdio e ser entrevistado para o jornal da SIC. Contas feitas, só por volta das 4 horas da manhã é que o novo campeão olímpico do triplo salto ficou livre para poder regressar à Aldeia Olímpica e dormir. Com a medalha de ouro ao lado.

Nelson Évora: O casal mais feliz no «Ninho»


Depois de Nelson Évora, o alvo de maior número de felicitações era, naturalmente, o treinador João Ganço. Mas, estranhamente, passava o tempo a olhar em redor, varrendo com os olhos as bancadas superiores. Recebia um abraço e olhava em volta. Davam-lhe mais uma palmada nas costas e ele olhava em volta. Até que, finalmente, chegou Margarida, a sua mulher, com um chapéu tradicional chinês e o rosto pintado com as cores da bandeira nacional. O abraço foi emotivo e prolongado, entre os dois. E as lágrimas correram. Quando, finalmente, desatou o nó da garganta, João Ganço gritou: «Campeão olímpico!!!!!!!» E voltaram a agarrar-se.
João e Margarida não foram os únicos a ficar com lágrimas em Pequim.

Nelson Évora: Os primeiros festejos


Depois de se sagrar campeão olímpico, Nelson Évora correu para abraçar o seu treinador (o único que teve em toda a sua carreira), João Ganço. Depois, pegou na bandeira nacional que tinha trazido de Portugal repleta de mensagens de apoio dos seus amigos e deu a volta de honra ao estádio. E terminou essa volta precisamente no sítio onde a tinha iniciado, em frente do local de saltos e junto às bancadas onde se concentravam os atletas portugueses que o quiseram ir ver. Com eles ficou cerca de 10 minutos, a receber felicitações, a tirar fotografias, até a atender mensagens dos telemóveis que lhe passavam para a mão. Quem é que falava em «ambiente de revolta» no seio da equipa olímpica?

Nelson Évora: Uma classificação memorável


O écran gigante do «Ninho de Pássaro» diz tudo: Nelson Évora passou a ser o quarto campeão olímpico da história do desporto nacional, juntando o seu nome aos de Carlos Lopes, Rosa Mota e Fernanda Ribeiro.

Nelson Évora: Campeão olímpico

Nelson Évora acaba de ganhar a medalha de ouro!!! O Hino nacional vai ser tocado no «Ninho de Pássaro».

Nelson Évora: Já tem medalha

Nelson Évora já garantiu um lugar no pódium. Ainda faltam mais dois concorrentes saltarem, mas o terceiro lugar, pelo menos, já está garantido

Nelson Évora: Um último salto

Nelson Évora vai encerrar o concurso do triplo salto. Como lidera a classificação, terá direito ao último salto da final. Uma vantagem que pode ser aproveitada. E se até lá ninguém superar os seus 17,67m até pode prescindir desse salto.

Nelson Évora: quinto salto a 17,24m

Pela primeiria vez nesta final, Nelson Évora deixou de progredir. Ao quinto salto fez apenas 17,24. Assim, continua a valer a sua melhor marca, o quarto salto, com 17,67m, com o qual lidera o concurso.

Nelson Évora: Grande salto a 17,67

Nelson Évora voltou a passar para a frente, no quarto ensaio, com um salto a 17,67 metros. Mas ficou desiludido: pensava que tinha conseguido mais uns centímetros. de facto, ele fez a chamada a pelo menos 10 centímetros da barra vermelha. Mas tem estado a melhorar de salto para salto.
Entretanto, ao fim dos primeiros três saltos o concurso ficou reduzido a oito atletas, que farão, cada um, mais três saltos. Já foram eliminados os seguintes atletas: Karailiev (Bulgária), Fuentes (Cuba), Spasovkhodskiy (Rússia)e Yanxi Li (China)

Nelson Évora: Idowu e Sands respondem

Nelson Évora fez um terceiro salto nulo e foi, entretanto, ultrapassado pelo britânico Idowu (17,62m) e por Leevan Sands, das Bahamas (17,59).

Nelson Évora: Segundo salto a 17,56 metros

Nelson Évora saltou 17,56 metros no seu segundo ensaio, passando a liderar provisoriamente a classificação. De notar que apenas mais outros três atletas, entre os 12 finalistas, conseguiram alguma vez na sua vida saltar mais do que essa marca.
Esta margem de avanço permite agora a Nelson Évora começar a arriscar ainda mais nos próximos saltos, visto que tem a passagem à segunda fase praticamente garantida.
Aliás, com as condições metereológicas de hoje em Pequim, vamos lá ver quanto valerá esta marca até ao final do concurso. Há quatro anos, em Atenas, o medalhado de prata saltou 17,55 metros, menos um centímetro que, agora, o segundo salto de Nelson.

Pequim: Nelson em segundo na primeira ronda de saltos

Com 17,31m no primeiro salto, Nelson Évora terminou a ronda inicial de três saltos em segundo lugar entre os 12 finalistas.
A classificação provisória é liderada pelo britânico Phillips Idowu, com 17,51 metros.
Enquanto espera pela vez do seu segundo salto, Nelson Évora já foi conversar com o treinador, João Ganço, que está sentado na primeira fila da bancada. O atleta português tem passado a maior parte do tempo a movimentar-se só optando por se sentar quando ficou completa a primeira série de saltos

Pequim: Nelson Évora começa bem

Nelson Évora fez 17,31 metros no primeiro salto da final, o melhor até ao momento nesta primeira série.

Pequim: Parou a chuva

Faltam cinco minutos para o início da final do triplo salto e deixou de chover. A pista continua molhada, claro, mas é menos um incoveniente. Os atletas vão começar a ser apresentados agora ao público.

Pequim: Final do triplo à chuva

Começou a chover com alguma intensidade no estádio. Nelson Évora tinha desejado uma noite de calor para o momento da prova. Afinal, vai ter que competir debaixo de chuva. Ele e os outros todos, claro.

Pequim: Nelson Évora entra no estádio

São 19.50 horas em Pequim e os 12 finalistas do triplo salto acabam de entrar no estádio. O início da prova está previsto para daqui a 35 minutos.

Pequim: 'Happy birthday' Usain Bolt

De repente, o «Ninho de Pássaro» acabou de se transformar numa imensa sala de festa de aniversário. Depois de concluída a cerimónia de entrega das medalhas aos três primeiros classificados da final dos 200 metros de ontem, a instalação sonora do estádio começou a ecoar o «happy birthday to you». Destinário: Usain Bolt, que celebra hoje 22 anos. O público correspondeu com um enorme aplauso. E Bolt respondeu com o seu gesto de apontar os braços para o ar, como se fosse um raio a cair do céu.

Pequim: Nelson Évora e os seus concorrentes


Para ganhar uma medalha nos Jogos Olímpicos de Pequim, Nelson Évora vai ter que dar o máximo e, porventura, superar até a sua melhor marca.
Entre os 12 finalistas à prova do triplo salto, que se inicia dentro de uma hora, o atleta português possui a quinta melhor marca do ano, com 17,34m, atrás do britânico Phillips Idowu (17,58m), do cubano Arnie David Girat (17,50m), do búlgaro Momchil Karailiev (17,38m) e do russo Igor Spasovkhodskiy (17,36m).
No entanto, se olharmos para os recordes pessoais, os 17,74 metros com que Nelson Évora se sagrou campeão do mundo, em Osaka, há um ano, só são superados pelos 17,90 do brasileiro Jadel Gregório, em 20 de Maio de 2007, e pelos 17,81 do romeno Marian Oprea.
Segundo o comité de especialistas da organização dos Jogos, os favoritos à vitória estão no grupo constituido por Nelson Évora, Phillips Idowu e Jadel Gregório, com a forte concorrência de Marian Oprea, do russo Daniel Burkenya e do norte-americano Aarik Wilson.
Entre os 12 finalistas, Nelson Évora, de 24 anos, é o terceiro mais novo, só superado pelos 20 anos do cubano Hector Fuentes e os 22 anos do ucraniano Viktor Kuznyetsov. O mais velho, com 33 anos, é o britânico Onochie Achike. Phillips Idowu tem 29 anos e Jadel Gregório tem 27 anos.

Pequim: A noite e o nevoeiro


Uma hora antes de se iniciar o programa de provas de atletismo, o «Ninho de Pássaro» está envolto numa profunda neblina. A visibilidade, lá fora, é escassa, mas na pista o tom cinzento em redor até dá um ambiente épico aos combates a que vamos assistir, dentro de momentos.
Um cenário destes até parece de propósito para preparar a chegada do «desejado» Nelson Évora.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Atletismo: O esforço de Usain Bolt


Quem o viu e quem o vê. No sábado, depois de bater o recorde mundial dos 100 metros, Usain Bolt apareceu eufórico e brincalhão na conferência de Imprensa. Hoje, depois de deixar o recorde do mundo dos 200 metros em 19,30 s, já parecia outro. Continuava bem disposto, mas notava-se que estava tremendamente exausto, a acusar o esforço de muitas corridas em poucos dias e, acima de tudo, daquilo que teve que dar na pista para poder destronar Michael Johnson.
Ele foi o próprio a reconhecer esse cansaço. E o esforço adicional que fez para se apoderar do recorde: «Este era o maior sonho da minha vida. Desde os 15 anos que sonhava com isto.»
Esse querer e vontade fizeram, de facto, a grande diferença face à corrida dos 100 metros, em que terminou a comemorar. «Eu já tinha o recorde dos 100 metros, não era nada que perseguisse. Por isso, quando percebi que ia ser campeão olímpico, fiz aquilo e celebrei, porque não estava a pensar no recorde. Eu só queria ganhar.»
«Esta noite foi diferente», continuou. «Desta vez, eu corri para o recorde. Queria ganhar e bater o recorde com que sonhava desde os 15 anos. Era a ocasião ideal: estou em grande forma e tinha que aproveitar esta pista rápida do Estádio de Pequim. Por isso, antes da prova começar disse para mim mesmo que ia deixar tudo na pista. Todas as forças que tivesse dentro de mim.»
E foi o que fez. Daí o seu ar exausto, quase hora e meia depois da final. «Agora só quero ir dormir», confessou.
Mas, se calhar, não vai ser fácil. Aqui em Pequim já passa da meia-noite. Já estamos a 21 de Agosto, o dia em que Usain Bolt celebra 22 anos. Se calhar, os outros elementos da delegação jamaicana não o vai deixar descansar tão cedo na Aldeia Olímpica.

Pequim: Vanessa na Aldeia Olímpica

Vanessa Fernandes e os outros dois atletas do triatlo, Bruno Pais e Duarte Marques mudaram-se esta manhã para a Aldeia Olímpica, onde irão permanecer até ao final dos Jogos Olímpicos. Apesar de algumas notícias em Portugal darem conta de um «ambiente de revolta» nas instalações da missão portuguesa, os triatletas foram recebidos com a cordialidade e a camaradagem habituais.
Os atletas do triatlo estiveram antes alojados no complexo turístico situado nas imediações do local de competição, tal como a maioria das delegações daquela modalidade.

Polémicas: Os 'lobos' e os patinhos de Pequim

A cultura desportiva em Portugal é um mistério difícil de compreender. E a paixão desportiva, então, é um enigma ainda mais indecifrável.
Expliquem-me, por favor, qual é a diferença entre perder 108-13 com a Nova Zelândia em rugby ou terminar uma corrida de 10 mil metros, no Estádio Olímpico de Pequim, com uma volta de atraso face ao etíope Bekele?
Em Portugal, pelos menos observado à distância, a diferença parece ser enorme: ou já está tudo esquecido que, há um ano, o país vibrava com a selecção de rugby, mais a sua «proeza» de perder todos os quatro desafios do Mundial, em França? Agora, parece que anda tudo deprimido porque não conseguimos ganhar medalhas nos Jogos Olímpicos (e, às vezes, até parece que mesmo a conquistada pela Vanessa Fernandes não vale por que não foi de ouro!).
E em que é que se distingue uma derrota por 56-10, ainda em rugby, com a Escócia ou uma derrota, por decisão dos árbitros, frente ao campeão asiático, como sucedeu ao judoca João Neto, em Pequim?
A única diferença, de facto, é que uns cantam o Hino como uns lobos, enquanto os outros (alguns) se portam e falam como uns patinhos… prontinhos para pôr a assar no banquete das frustrações que se repete, em Portugal, todos os quatro anos.
Convinha, assim, começar a olhar para isto tudo com menos paixão. E explicar que grande parte dos atletas que viajaram para Pequim está num nível exactamente igual ao dos «gloriosos Lobos» do Mundial de França: o seu prémio é terem-se qualificado para os Jogos Olímpicos, como o dos homens do rugby foi o terem conseguido ir a França (ou já ninguém se lembra dos «heróis de Montevideu»?). Depois, a outra grande parte são atletas que buscam aquilo que os «Lobos» também procuraram no seu Mundial: fazer uma gracinha (no caso do rugby era ganhar à Roménia, o que não foi conseguido).
Sobram, assim, uns 10 atletas (em 77, note-se) com hipóteses de chegarem às finais e, aí, tentarem uma proeza.
O problema, de facto, foi a gestão das expectativas e ter-se definido, como objectivo, a conquista de quatro medalhas, quando apenas tínhamos, no máximo, cinco atletas para essa tarefa. Assim, o desastre começou a anunciar-se mal a judoca Telma Monteiro caiu eliminada. Logo no segundo dia de competição, já se tinha esgotado a margem de erro.
Foi assim, de derrota em derrota, que se chegou ao surrealismo final: segundo ouvi dizer, o quarto lugar de Gustavo Lima, na vela, também foi considerado um fracasso, em Portugal. Exactamente no mesmo país que se engalanou para receber a selecção de futebol no Estádio Nacional, após uma classificação igual no Mundial de 2006.
Claro que os resultados em Pequim estão a ser medíocres. Mas o surpreendente era que fossem bons. O desporto não se desenvolve apenas com a atribuição de bolsas aos atletas de alta competição. É preciso, acima de tudo, estruturas para detectar talentos, enquadrá-los e fazê-los evoluir para nível internacional. E aí, estou como diz a Vanessa Fernandes: «Em Portugal há talento como o caraças… é preciso é saber aproveitá-lo.»

Atletismo: Bolt volta a voar em Pequim

Se alguém ainda tinha dúvidas, agora já não restam nenhumas: o jamaicano Usain Bolt é, aos 21 anos, o homem mais rápido do mundo. No Estádio Olímpico de Pequim, Bolt voltou a voar pela pista e retirou dois centésimos de segundo ao histórico recorde dos 200 metros, de Michael Johnson, estabelecido há 12 anos, nos Jogos Olímpicos de Atlanta. No «Ninho de Pássaro» o cronómetro parou nos 19,30 segundos, deixando os 91 mil espectadores em delírio.
Ao contrário do que tinha sucedido na final dos 100 metros, no sábado, em que Usain Bolt começou a festejar a 10 metros da meta (mesmo assim, o suficiente para colocar o recorde nos 9,69 segundos!), desta vez o jamaicano correu até ao fim completamente compenetrado. E, na meta, ainda esticou o corpo para a frente, como mandam as regras dos sprinters. Esse gesto acabou por ser fundamental para a obtenção do recorde, já que inicialmente o tempo assinalado foi de 19,31 segundos, sendo depois corrigido no «photo-finish» para 19,30 segundos.
Curiosamente, antes da final se iniciar, o anterior recordista, Michael Johnson tinha afirmado que esperava a vitória de Usain Bolt nos 200 metros, mas que dificilmente ele lhe roubaria o recorde. No entanto, admitiu que se o jamaicano conseguisse fazer a curva melhor do que o habitualmente e aguentar a velocidade até ao fim, o seu recorde passaria a ter outro dono. Foi isso precisamente que sucedeu.
Durante a volta de honra, Usain Bolt virou-se para as câmaras de televisão do estádio e com o dedo indicador direito esticado, gritou duas vezes: «Sou o número um!
Em segundo lugar ficou Churandy Martina, das Antilhas Holandesas, com um recorde nacional de 19,82s, enquanto a medalha de bronze foi para o campeão olímpico de Atenas, o norte-americano Shawn Crawford, com 19,96 segundos.
Após a prova, em homenagem à proeza de Usain Bolt, a instalação sonora do «Ninho de Pássaro» começou a tocar música reggae. E Bolt, uma vez mais, aproveitou para dançar.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Saltos: Naide e Bubka

Este foi um dia triste para a missão portuguesa, mas especialmente para a Naide Gomes, uma atleta que, pelo seu trabalho, empenho e talento, não merecia a «traição» de falhar a final do salto em comprimento. Mas, é preciso recordá-lo, isso é algo que acontece aos melhores. Aconteceu, pelo menos, ao melhor de sempre no salto à vara, o inesquecível Sergei Bubka. Em 1992, nos Jogos de Barcelona, ele também falhou a qualificação para a final. E era o recordista mundial (como ainda continua a ser...) e campeão olímpico em título. Acontece aos melhores...

Vanessa: Uma medalha planeada


Os registos oficiais indicam que Vanessa Fernandes ganhou a medalha de prata, em Pequim, depois de nadar 1,5 quilómetros, pedalar 40 quilómetros e correr durante outros 10 quilómetros em 1 hora 59 minutos e 34 segundos. É isso que fica na história. Mas é, no entanto, uma pequena parte da história.
Para se conhecer a verdadeira história desta medalha (histórica!) para o desporto português é preciso recuar, no mínimo sete anos, quando uns «visionários» na Federação de Triatlo decidiram fazer um plano a que chamaram «Projecto Pequim 2008». Nele, estava já o objectivo de levar um conjunto de tri-atletas aos Jogos na capital chinesa, entre os quais se incluía uma tal Vanessa Fernandes que começava a dar sinais de grande capacidade nas provas amadoras em que participava.
Pode parecer impossível uma coisa destas acontecer no Portugal do contínuo improviso e do desenrasca, mas tudo o que aconteceu a seguir foi de acordo com aquele plano.
Com etapas bem definidas e que pontuaram, de forma exemplar, a evolução de uma atleta e de uma modalidade. Há dois momentos que marcaram tudo: primeiro, a escolha de Vanessa em dedicar-se, por inteiro, à alta competição, saindo da casa dos pais, no Perosinho, aos 16 anos, e passando a residir a tempo inteiro no Centro de Alto Rendimento, no Jamor; depois, o oitavo lugar, aos 18 anos, nos Jogos Olímpicos de Atenas, na sua estreia ao nível mais elevado.
«Foi nesse momento que decidi que era isto que queria, que era possível alcançar o meu sonho de uma medalha olímpica», confessou hoje, depois de cumprido o sonho.
Desde Atenas, toda a sua carreira foi pensada, gerida e planeada a pensar em Pequim. Como ela é a primeira a reconhecer, a sua medalha nunca teria sido possível sem o trabalho e o apoio de todos os que a rodearam ao longo desse ciclo. Por isso, ela recorda, com gratidão, as metas bem definidas pelos seus treinadores Sérgio Santos e António Jourdan («eles são, em conjunto, o treinador perfeito», diz), o apoio constante dos atletas com quem ela costuma treinar, em especial o também olímpico Bruno Pais («é ele que eu tento seguir nos treinos, que puxa mais por mim»), o carinho das pessoas em Portugal e, claro, o bom ambiente e confiança que sempre encontrou na família.
A medalha de prata conquistada por Vanessa Fernandes em Pequim é, naturalmente, um prémio ao seu talento, dedicação, capacidade de trabalho e de sacrifício. Mas é também um prémio muito especial à capacidade de planeamento, ao esforço dedicado e à paixão de todos os que estiveram em seu redor ao longo dos últimos sete anos. É essa lição, se bem apreendida, que pode fazer da medalha de Vanessa Fernandes um ponto de viragem na evolução do desporto em Portugal.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Pequim: Os treinadores de Vanessa


Gostam de permanecer na sombra, embora nunca recusem responder a uma pergunta ou dúvida. Eles sabem que o palco principal é para Vanessa Fernandes. Mas ela, mais do que ninguém, sabe que deve a sua medalha olímpica ao trabalho, dedicação, profissionalismo e competência de Sérgio Santos e António Jourdan. Hoje, quando Vanessa subiu ao pódio, os dois treinadores estavam do outro lado do «palco», sem poderem ver a atleta ao vivo. Mas observaram tudo em frente a um dos ecrans gigantes. Abraçados, com a sensação perfeita do dever cumprido.

Pequim: Vanessa de prata


Há medalhas que, às vezes, parecem caídas do céu. Mas esta só foi ganha à custa de muito trabalho, dedicação, planeamento e perseverança. No fim, até foi preciso cerrar os dentes e saber sofrer. Há sonhos assim.

domingo, 17 de agosto de 2008

100 metros: O ano da Jamaica


Herb Elliott, o médico da selecção jamaicana de atletismo, bem avisou ontem os jornalistas que o procuravam após a retumbante vitória de Usain Bolt: «Hoje não podemos festejar. Amanhã temos prova. Amanhã as meninas vão correr os 100 metros e vocês vão ver como elas correm.»
Acabámos de ver. De uma forma impressionante: as três jamaicanas nos três primeiros lugares. Ou melhor: as três nos dois primeiros lugares, já que Sherone Simpson e Kerron Stewart ficaram empatadas as duas na medalha de prata, com um tempo rigorosamente igual de 10,98 segundos, que demorou vários minutos a ser anunciado. A campeã olímpica foi Shelly-Ann Fraser, com um recorde pessoal de 10,78 segundos.

Pequim: As luzes do Parque Olímpico



A temperatura baixou para valores muito agradáveis, já corre uma brisa, a humidade do ar quase desapareceu e, ainda por cima, está lua cheia. Que melhores condições se podem pedir para ir passear pelas avenidas, jardins e recantos do Parque Olímpico? A resposta tem sido dada pelos milhares de chineses - e muitos visitantes estrangeiros - que nos últimos dias têm invadido o recinto principal destes Jogos Olímpicos. E quase todos ficam até à noite, mesmo sem bilhetes para as competições, só para poderem apreciar as iluminações nocturnas do «Ninho» e do «Cubo». Nestes dias, com a ajuda da lua cheia.

Ténis: Nadal, o primeiro



Na véspera de ser anunciado, oficialmente, como o «número 1» do ténis mundial, o espanhol Rafael Nadal deu mais uma manifestação da sua superioridade, ao derrotar, em Pequim, o chileno Fernando Gonzalez, na final do torneio olímpico. Para gáudio das centenas de espanhóis que, com as cores da sua selecção, inundaram as bancadas do court central do Parque Olímpico. Foi uma vitória festejada aos gritos de muitos «olés». E Nadal continuou a demonstrar porque é uma das personagens mais populares e simpáticas da Aldeia Olímpica.

Ténis: Nadal dominador

Rafael Nadal acaba de ganhar o primeiro set, em 37 minutos, por 6-3, frente ao chileno Fernando Gonzalez.
O court central do complexo de ténis do Parque Olímpico de Pequim esá hoje, quase por completo, a falhar castelhano.
As medalhas serão entregues por Juan António Samaranch, presidente honorário do COI, que está sentado na tribuna imediatamente atrás da rainha Sofia, de Espanha, a qual é acompanhada pela filha Cristina e o genro Inaki Urdangari (medalha de bronze, com a selecção espanhola, nos Jogos de Atlanta e de Sydney)

Pequim: As lágrimas de Inge DeBruijn


A bancada de Imprensa, nos Jogos Olímpicos, é uma espécie de Aldeia Olímpica em miniatura, apenas com uma ligeira diferença: aqui, sentamo-nos lado a lado, cada um a cobrir o acontecimento para o respectivo país, mas nunca chegamos a competir, verdadeiramente, uns com os outros.
Mas há encontros curiosos. Na final da ginástica masculina fiquei sentado ao lado de uma antiga basquetebolista australiana (medalhada em Sydney), que agora comenta os Jogos para um canal de televisão. No intervalo das piruetas do Yang Wei ainda deu para recordar alguns momentos dos Jogos na Austrália e de confirmar como a emoção no desporto é mesmo universal.
No sábado, no atletismo, conheci um jornalista sul-africano que, entre as meias-finais e a final dos 100 metros, me mostrou as fotografias dele em casa do Usain Bolt, na Jamaica. Um tipo impecável e que conheceu todos os grandes nomes do atletismo. «Bolt? Lembra-me o Carl Lewis dos primeiros tempos», disse-me.
Mas hoje saiu-me a sorte grande, no final da jornada de natação. Na conferência de Imprensa de Michael Phelps comecei a conversar com a Inge DeBrujin, a nadadora holandesa que «arrasou» nas provas de velocidade em Sydney e Atenas. E, depois, saímos juntos do «Cubo», a pé, ela para o IBC (onde estão sediadas as televisões) e eu para o MPC (o centro de Imprensa). Felizmente (achei eu hoje pela primeira vez...), as distâncias no Parque Olímpico são sempre muito longas aqui em Pequim. Assim, durante dez minutos lá fomos os dois a conversar sobre a façanha de Michael Phelps que tinhamos acabado de presenciar. Ela, pelo meio, naturalmente, ia fazendo o paralelo com a sua carreira, dando-me informações preciosas sobre o que é a verdadeira vida de um nadador de competição ao mais alto nível. E como a admiração perante a proeza de Michael Phelps é superior entre aqueles que sabem, exactamente, o que é essa vida.
«Confesso que me vieram as lágrimas aos olhos quando o vi ganhar a oitava medalha. É uma proeza fenomenal», disse-me, antes de nos despedir-nos.
Começo a perceber que o oito é mesmo um dia especial aqui na China: depois de ter visto um atleta ganhar oito medalhas de ouro, acabei a manhã a conversar com uma antiga atleta que, nos Jogos, ganhou... oito medalhas (quatro de ouro, duas de prata e duas de bronze).

Natação: Estes Jogos não são para velhos (mas quase...)

Duas velhas glórias da natação mundial esperavam terminar o último dia da natação, em Pequim, a escrever, como Michael Phelps, uns quantos capítulos no livro dos recordes dos Jogos Olímpicos. A norte-americana Dara Torres procurava, aos 41 anos, voltar a sagrar-se campeã olímpica, deixando os recordes de longevidade num patamar absolutamente extraordinário. O australiano Grant Hackett, aos 28 anos, queria ser o primeiro nadador a ganhar a mesma prova (1500 metros livres) em três Jogos consecutivos.
Nenhum deles, no entanto, conseguiu chegar ao ouro. Hackett ficou em segundo lugar na prova onde não perdia há sete anos, classificando-se atrás do surpreendente tunisino Oussama Mellouli, o primeiro nadador de um país muçulmano a ganhar a medalha de ouro.
Dara Torres também se ficou pela prata. Perdeu a final dos 50 metros livres, por um centésimo de segundo, para a alemã Britta Steffen (que já tinha ganho também os 100 metros) e a estafeta de 4x100 estilos para a Austrália.

Natação: Michael Phelps cumpriu o sonho


Grande ambiente, esta manhã, no Cubo de Água. Milhares de espectadores, quase todos munidos de câmaras fotográficas ou de vídeo, dispostos a presenciar um momento que ficará, durante muito tempo, na história dos Jogos Olímpicos: iam ser testemunhas da conquista da oitava medalha de Michael Phelps, em Pequim.
Sem bilhete para os lugares reservados à comunicação social - a natação em Pequim, tal como sucedia em Sydney, não permite a entrada de todos os jornalistas credenciados - tentei entrar, com a credencial, pela porta do público. E consegui-o sem a menor dificuldade. Sentei-me entre uma família de australianos e um casal de chineses. Todos estavam ali pelo mesmo objectivo: Michael Phelps.
E tudo correu como previsto. Na última prova da jornada, e a derradeira da competição de natação no «Cubo de Água», a equipa de 4x100 metros estilos fez o seu trabalho habitual desde que a prova foi introduzida nos Jogos Olímpicos de 1960: ganhar a medalha de ouro (e com mais um recorde do mundo).
Michael Phelps fez o terceiro percurso, o da mariposa, e concentrou, naturalmente, todas as atenções.
Depois, no pódio, mostrou uma emoção rara, que não se tinha visto antes, nas sete medalhas anteriores. Na conferência de Imprensa, Phelps explicou, sempre com um discurso muito fluente, o porquê daqueles olhos raiados de lágrimas ao receber a medalha: «Ao longo da minha vida, tive muitos sonhos, tracei muitas metas. Mas este foi o sonho maior de todos, aquele que muitos julgavam impossível. E, ao receber a medalha, senti que estava a realizá-lo, a cumpri-lo. Foi então que me lembrei de tudo o que passei para o alcançar. A minha vida correu, naqueles segundos, pela minha cabeça. Até o episódio daquela professora de Inglês que um dia chamou a minha mãe para lhe dizer que eu nunca seria bem sucedido, pois era incapaz de me concentrar no que quer que fosse. Mas eu cumpri o meu maior sonho.»

sábado, 16 de agosto de 2008

Atletismo: E Bolt só se queria divertir

Grande excitação na conferência de Imprensa dos medalhados nos 100 metros, com Usain Bolt, sempre a mastigar uma barra de chocolate, a dominar todas as atenções.
Naturalmente, grande parte das perguntas foram no mesmo sentido: porque raio ele decidiu quase abrandar nos últimos 10 metros e, se não o tivesse feito, em quanto poderia ter deixado o recorde do mundo?
Respondendo sempre com poucas palavras, Usain Bolt encolhia os ombros: «Não sabia que ia para recorde do mundo, eu só me queria divertir na pista!»
Percebo agora a razão porque Herb Elliott, médico e vice-presidente da federação jamaicana de atletismo, repetiu várias vezes aos jornalistas estrangeiros que o procuravam: «Nem ele sabe a que velocidade consegue correr.»
E atenção, que o domínio jamaicano nas provas de velocidade pode prosseguir amanhã, com a final dos 100 metros femininos.

Pequim: «Ninho» e «Cubo» para a história

Os chineses têm sorte. Os dois maiores feitos desportivos destes Jogos Olímpicos de Pequim realizaram-se precisamente nos dois equipamentos com que a China se quis mostrar ao mundo como nação moderna, poderosa e brilhante.
No «Cubo de Água», durante sete dias consecutivos, o norte-americano Michael Phelps conquistou sete medalhas de ouro (a oitava será ganha nas próximas horas...) e deixou o seu nome ligado para sempre aquela estrutura coberta de um plástico transparente.
No «Ninho de Pássaro», o jamaicano Usain Bolt deu, há poucas horas, uma lição inesquecível de como se corre em velocidade, esmagando o recorde dos 100 metros e deixando em delírio os 90 mil espectadores presentes. Durante muitos anos, aquela será «a pista do recorde de Bolt». E vamos lá ver o que o rapaz ainda vai fazer nos 200 metros.
Os chineses têm sorte: logo dois super-atletas para dois super-equipamentos.

Inacreditável: Usain Bolt em 9,69s


Os 100 metros mais rápidos da história acabam de ser corridos na pista do «Ninho de Pássaro»: Usain Bolt voou durante 90 metros e depois passou os últimos 10 a anunciar a vitória, abrindo os braços e batendo com a mão direita no peito, ainda antes de cortar a meta. E o cronómetro, apesar desses últimos 10 metros, anunciou 9,69 segundos, menos três centésimos do que o seu anterior recorde mundial. Absolutamente fantástico.
Que tempo poderia ter ele feito se necessitasse de acelerar nos últimos dez metros: 9,50?
Desde Ben Johnson, em Seul-88, que não se via uma vitória tão expressiva numa final olímpica dos 100 metros. Esperemos que, desta vez, o resto da história não se repita.

Zona mista: O inimitável e inesquecível Francis Obikwelu

Nos Jogos Olímpicos, os resultados decidem-se na pista, mas a imagem dos atletas é definida, grande parte das vezes, por aquilo que eles conseguem valer na Zona Mista, aquele espaço por onde eles «desaparecem» quando as pessoas deixam de os ver no estádio ou na televisão, a caminho dos balneários.
A Mix Zone é uma espécie de local sagrado, onde os jornalistas podem falar com os atletas, geralmente interpelando-os em grupo, com uma profusão de braços estendidos a agarrar em gravadores e as perguntas a saírem em catadupa, ao gosto e interesse de cada um, sem um plano ou uma lógica concertada. Isto, durante cinco ou 10 minutos, perante atletas ainda ofegantes e, muitas vezes, com vontade de se «enfiarem num buraco». É proibido tirar fotografias ou captar imagens.
Nestas circunstâncias, percebe-se como a Mix Zone se transforma, facilmente, num local de festa e excitação quando se vai falar com o vencedor, e num local de muita tensão quando o atleta acabou de perder. Com uma agravante particular: quando se ganha, a maior parte do que é dito e escrito refere-se à forma como a prova decorreu; quando se perde pouco mais resta para contar do que as declarações do perdedor. E é aí que se joga a imagem de um atleta, até porque são raros os que, em Portugal, recebem conselhos profissionais sobre o que devem ou não dizer.
Francis Obikwelu, no entanto, sempre foi um caso especial nas zonas mistas. Tanto na vitória como na derrota.
Esta noite, voltou a prová-lo em Pequim, exactamente da mesma forma como quando teve o seu maior momento de glória, ao ganhar a prata, em Atenas, há quatro anos: falando sempre com o coração, nada mais do que o coração. E em várias línguas, com uma disponibilidade e simpatia sem paralelo entre atletas deste nível: parando para falar com os jornalistas da Nigéria, onde nasceu, de Espanha, onde vive, e de Portugal, cuja bandeira representa.
De Francis Obikwelu nunca ouvi um queixume ou uma desculpa esfarrapada. Quando triunfava, continuava sempre a manter um nobre respeito sobre todos os adversários. Quando perdia - como sucedeu esta noite - assumia as culpas, por inteiro.
Hoje, perante os jornalistas portugueses, repetiu insistentemente o seu pedido de desculpas ao povo português.
«O povo andou a pagar, com o dinheiro dos seus impostos, para eu estar aqui. E não consegui chegar à final. Falhei. Peço desculpa», disse, várias vezes, com uma ou outra variação. Mas percebia-se que não era uma «jogada de marketing». Todos sentimos que aquilo lhe vinha mesmo do coração. Exactamente como quando lhe perguntei qual era o momento que ele recordava como o de maior felicidade em toda a sua carreira. Confesso que esperava que ele falasse na medalha de Atenas. Mas não. Mais uma vez foi desconcertantemente sincero: «O melhor momento, aquele que jamais esquecerei, foi quando vi todos os portugueses a receberem-me de braços abertos, após a medalha. Aqueles gritos de 'Francis', 'Francis' vou guardá-los para sempre no meu coração. Valeram mais do que a medalha»
As emoções da zona mista são mesmo assim: já estou com saudades deste inimitável e inesquecível Francis Obikwelu.

Final dos 100 metros: Obikwelu aposta em Bolt

Para Francis Obikwelu, a final dos 100 metros vai ser ganha pelo jamaicano Usain Bolt, que já assinou o melhor tempo das meias-finais, com 9,85s (e a abrandar nos últimos 10 metros), a um centésimo do recorde olímpico do canadiano Donovan Bailey, estabelecido na final de Atlanta-96.
«Asafa Powell é meu amigo, mas o Usain Bolt está numa forma fenomenal, muito forte, não dá hipóteses», disse Obikwelu, que não acredita, no entanto, que o recorde do mundo seja batido em Pequim: «O Bolt já tem o recorde do mundo, ele agora quer é ganhar a medalha de ouro. Ele não vai correr para o recorde, ele vai correr para ganhar o ouro.»
Francis Obikwelu não ficou surpreendido com a eliminação do norte-americano Tyson Gay. Na sua opinião, foi até surpreendente ele ter-se classificado para a meia-final: «O Tyson Gay não está bem. Ele lesionou-se nos campeonatos dos EUA e, nos últimos dois meses, não correu. Era impossível estar em forma. Para mim, ele nem às meias-finais chegava.»

Atletismo: A última corrida de Francis Obikwelu

Francis Obikwelu despediu-se hoje da alta competição ao falhar o apuramento para a final olímpica dos 100 metros, depois de concluir a sua meia-final em sexto lugar e com o tempo de 10,10 segundos, muito longe dos 9,86 com que ganhou a medalha de prata em Atenas e que é recorde europeu.
«Peço desculpa aos portugueses, mas já não dá mais. Vou deixar o atletismo», anunciou Francis Obikwelu aos jornalistas, logo após a prova, esclarecendo que não participará sequer nas eliminatórias dos 200 metros: «Tenho muitos problemas no joelho, não vale a pena continuar.»
Num tom de conversa sempre muito humilde, Francis Obikwelu quis assumir, perante o povo português, o falhanço da sua corrida na meia-final, depois de ter prometido que ia chegar, novamente, às medalhas: «Não quero arranjar desculpas nem vale a pena falarem-me no problema da falsa partida. A culpa foi só minha. Não arranquei bem e, depois, também não consegui recuperar. Mas fui eu que falhei. Só eu e mais ninguém.»
Na mesma meia-final, o norte-americano Tyson Gay, campeão mundial, terminou em quinto lugar, ficando também afastado da final.

Atletismo: Mutola histórica

A moçambicana Maria Mutola acaba de se classificar para a sua quinta final olímpica de 800 metros, prova em que foi medalha de ouro nos Jogos de Sydney (2000) e bronze em Atlanta (1996). Um feito único de uma atleta com 14 títulos mundiais e que vale a pena conhecer melhor na sua página pessoal.

Natação; Milorad Cavic, o anti-herói



Milorad Cavic é um dos grandes nadadores mundiais, um dos mais rápidos do planeta a nadar mariposa, mas parece estar condenado a ser notícia mais pelas suas posições fora de água do que dentro da piscina.
Em Março, nos europeus de natação, venceu os 50 metros mariposa, mas o que ficou na memória foi a sua subida ao pódio com uma T-shirt em que se lia «Kosovo é Sérvia». Uma declaração que originou a sua expulsão da competição, chegando mesmo a temer-se a sua participação nos Jogos Olímpicos.
Agora, após perder a final dos 100 metros mariposa com Michael Phelps pela margem mais mínima que é possível (1 centésimo de segundo!), Cavic ganhou o aplauso geral ao ser o primeiro a reconhecer a derrota e terminando, logo aí, com o protesto formal que os dirigentes sérvios estavam dispostos a accionar.
Resta apenas recordar que este Cavic nasceu e vive na Califórnia. Se quisesse podia competir pelos Estados Unidos, mas preferiu fazê-lo pela Sérvia dos seus pais, onde é considerado quase um herói nacional. Ou antes: um anti-herói.
(Foto submarina: EPA/Patrick B. Kraemer - Phelps está à esquerda, de tronco nu)

Remo: Dupla portuguesa chegou aos pontos

Nuno Mendes e Pedro Fraga podiam ser uns completos desconhecidos à partida para Pequim, mas podem, agora, orgulhar-se de terem conquistado um feito quase único entre a delegação nacional, ao fim de uma semana de competições: um lugar entre os oito primeiros classificados e a consequente conquista de pontos para Portugal.
Ao acabarem a final B do double scull ligeiro em segundo lugar, Nuno Mendes e Pedro Fraga ficaram em oitavo lugar da geral e conquistaram um ponto. Os outros dois pontos da missão portuguesa foram ganhos pela judoca Ana Hormigo, com um sétimo lugar na categoria de -48 kg.
Para garantir o segundo lugar na final B, a dupla portuguesa exibiu, uma vez mais, a sua ponta final demolidora: aos 1 500 metros seguiram em quinto lugar, mas nos restante 500 metros ultrapassaram as duplas de França, Austrália e Alemanha.

Atletismo: A noite da final dos 100 metros

No final da primeira semana de competição, o estádio olímpico vai viver hoje a noite mais especial do atletismo: a da final dos 100 metros masculinos.
Não há nada de comparável nos outros dias todos em que a chama se mantém acesa no estádio. A imprevisibilidade do resultado e a rapidez da prova provocam um concentrado único de energia e emoções fortes sem paralelo. Vai ser assim, dentro de poucas horas.

Natação: Michael Phelps como Mark Spitz



Durante um dia, Michael Phelps vai estar empatado com Mark Spitz, com as sete medalhas de ouro conquistadas nuns Jogos Olímpicos. Mas será só um dia... Amanhã a história será reescrita, e Phelps terá a coroação plena e absoluta de melhor nadador (atleta?) de todos os tempos - ninguém acredita que a equipa dos Estados Unidos perca a final dos 4x100 metros estilos no último dia de competição no «Cubo de Água»
Como se esperava, a sétima medalha de ouro de Phelps foi a mais difícil. E os números da final dos 100 metros mariposa, disputados esta manhã, indicam isso mesmo: Phelps assegurou a sua sétima medalha em Pequim por apenas um centésimo de segundo. E foi a primeira que ganhou, aqui, sem bater o recorde mundial (que se mantém na posse do norte-americano Ian Crocker, que ficou em quarto lugar nesta final).
O grande adversário de Phelps acabou por ser o sérvio Milorad Cavic que dominou toda a prova até... um centímetro do fim.
Só para se ter uma ideia, na viragem dos 50 metros, Michael Phelps seguia em sétimo lugar a cerca de meio segundo de distância de Cavic. Depois, a sua velocidade terminal assegurou-lhe o triunfo. Mas de uma forma muito suada.
No «Cubo» o ambiente é indescritível. Todos sentem que estão a assistir a um momento histórico, que será recordado durante muitos e muitos anos. Um sentimento também partilhado pelo sérvio Cavic e o australiano Andrew Lauterstein (terceiro lugar) quando subiram ao pódio com Phelps - eles sabiam que estavam a fazer parte da história. A fotografia da sétima medalha de Phelps vai incluí-los. Sempre que se queira recordar o dia em que um norte-americano de 23 anos igualou o recorde «impossível» de Mark Spitz. Durante um único dia.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Remo: Portugueses em busca de pontos


A dupla portuguesa do double scull ligeiro Nuno Mendes/Pedro Fraga vai tentar, no sábado, amealhar pontos para a missão portuguesa aos Jogos Olímpicos de Pequim, ao disputar a final B, onde se pode classificar entre o sétimo e o 12º lugar, naquele que já é, de qualquer forma, o melhor resultado de sempre do remo em Jogos Olímpicos.
Se ganhar ou ficar em segundo lugar na final B, a dupla pode amealhar dois ou um ponto para Portugal, respectivamente.
Até ao momento, a missão portuguesa apenas conta com dois pontos, correspondentes ao sétimo lugar de Ana Hormino, no judo. A meta inicial traçada pelos dirigentes da missão era de 60 pontos, algo já muito difícil de conseguir, uma semana depois de ter sido acesa a chama olímpica no «Ninho» de Pequim.
(Foto: Carlos Alberto Matos/COP)

Em directo: A segunda eliminatória dos 100 metros


São cinco eliminatórias para apurar os 16 semi-finalistas. Passam os três melhores de cada série, e o melhor tempo. Francisc Obikwelu corre na quarta série. Vamos lá ver quem se classifica:
1.ª série: Ganha Churandy Martina, das Antilhas holandesas, com 9,99 s, seguido de Michael Frater, da Jamaica (10.09s) e Naoki Tsukahara, do Japão (10,23s).
2.ª série: Ganha Richard Thompson, de Trindade e Tobago (9,99s), seguido de Tyson Gay, EUA (10,09s) e de Martial Mbandjock, França (10,16s). Para já, um dos favoritos à final, o nigeriano Olusoji Fasuba, vai ter que esperar para saber se consegue o apuramento para as meias-finais, visto ter ficado em quarto, com 10,21s
3.ª série: Ganha Marc Burns, de Trindade e Tobago (10,05s), seguido de KimCollins, St. Kettis e Nevis (10,07) e de Tyrone Edgar, Grã-Bretanha (10,10s). Para já, o nigeriano Fasuba, da série anterior, já está fora. Samuel Francis, do Qatar, acabou de fazer 10,11s.
4.ª série: Ganha Usain Bolt, Jamaica (9,92s), seguido de Darvis Patton, EUA (10,04s) e de Francis Obikwelu, Portugal (10,09). Francis já está nas meias-finais. E com facilidade, já que controlou bem a corrida, apesar de ter arrancado mal. Mas não precisou de dar tudo para garantir a qualificação.
5.ª série: Ganha Asafa Powell, Jamaica (10,02s), seguido de Walter Dix, EUA (10,08s) e de Derrick Atkins, Bahamas (10,14s).
Para já, nas meias-finais vão estar os três jamaicanos, os três americanos e apenas três representantes da Europa: Francis Obikwelu (Portugal) Martial Mbandjock (França) e Tyrone Edgar (Grã-Bretanha). A grande surpresa é a presença do japonês Tsukahara.
(Foto: Carlos Alberto Matos / COP)

Pequim: O sol depois da chuva





O debate sobre a poluição parece estar já morto e enterrado - pelo menos até à maratona feminina de domingo, quando pode ser ressuscitado, se os resultados de algumas atletas não forem aquilo que se está à espera.
Para já, depois de dois dias de chuvas torrenciais - que obrigou mesmo à distribuição de milhares de impermeáveis por todo o Parque Olímpico - hoje o céu amanheceu azul e assim se tem mantido.
Ao mesmo tempo, a organização parece ter resolvido, finalmente, o problema dos passes de um dia para o Parque Olímpico.
Resultado: hoje está uma atmosfera fantástica no coração dos Jogos Olímpicos, com milhares de pessoas a passear pelo espaço enorme que alberga as competições de atletismo, natação, ginástica, esgrima, ténis, tiro com arco e hóquei em campo, entre outras.

Ginástica: O pai mais feliz do mundo


Conheci agora, às 14 horas de Pequim, aquele que é hoje, seguramente, o pai mais feliz do mundo. Nem eu nem os outros 90 jornalistas presentes naquela sala da cave do Grande Pavilhão Olímpico temos a mais pequena dúvida a esse respeito. Bastava ver a forma como ele olhava, embevecido, para a filha enquanto ela falava. Como, disfarçadamente, lhe punha a mão na perna ou no ombro, num gesto carinhoso. Como os dois sorriam um para o outro. Como os seus olhos brilhavam. Como...
Valeri Liukin estava completamente nas nuvens. A sua atleta preferida, aquela que treina desde sempre, tinha acabado de se sagrar campeã olímpica individual de ginástica feminina. Essa atleta, Nastia, é a sua filha.
E Valeri sabe muito bem o valor que tem esta medalha da filha. Ele próprio esteve quase a ganhar a equivalente masculina, em 1988, nos Jogos de Seul. Mas ficou-se pela de prata. As duas de ouro que ganhou, foram no concurso por equipas (com a União Soviética) e na barra fixa - além de outra de prata nas paralelas. Ele era um dos melhores ginastas daquela época.
Em 1992, após os desmembramento da União Soviética, e quando a filha Nastia (nascida em Moscovo a 30 de Outubro de 1989) tinha apenas dois anos, a família Liukin mudou-se para os Estados Unidos.
«Ainda bem que o fiz. A América deu-me, naquela época, muitas oportunidades. Não teria sido possível obter agora estes resultados se tivesse permanecido na Rússia. Especialmente naquela Rússia de há 16 anos», confessou.
Nos Estados Unidos, Valeri montou alguns dos mais bem sucedidos ginásios do país, de onde saem as melhores atletas. Como a sua filha.
No final da conferência de Imprensa, consegui chegar junto dele e perguntei-lhe como se sentia como pai. Com um sorriso enorme, ele respondeu-me como se fosse o Leonardo diCaprio no «Titanic»: «O que é que posso dizer? I'm king of the world!!!».

Ginástica: A reconfortante vitória da rapariga «normal»

Numa competição marcada pela polémica à volta da verdadeira idade de algumas das ginastas-crianças da China, a vitória de Nastia Liukin no concurso individual de ginástica acaba por ser uma excelente notícia.
Neste mundo tão competitivo da ginástica feminina, onde os corpos são moldados, por vezes de forma violenta, para além dos limites, Nastia parecia a «mais normal» de todas as competidoras da final, com os seus 1,60 metros de altura e 45 quilos de peso. Embora magra, tem um corpo atlético, mas sem exageros. E, em competição ou fora dela, apresenta sempre expressões normais.
Parte do seu segredo está nos genes: o seu pai, Valeri Liukin, foi ginasta nos Jogos Olímpicos de Seul-88, onde ganhou duas medalhas de ouro e duas de prata, em representação da União Soviética. A mãe foi campeã do mundo de ginástica rítmica em 1987.
Os Liukin mudaram-se de Moscovo para o Texas, nos Estados Unidos, quando Nastia tinha dois anos.

Ginástica: Ouro para Nastia Liukin


Por uma vez, os gritos de incitamento dos chineses foram substituídos, no Pavilhão principal, pelo coro de «USA, USA»: a norte-americama Nastia Liukin acaba de ganhar o concurso individual de ginástica feminina, após uma prova fantástica no solo.
Os Estados Unidos ganharam ainda a medalha de prata, por intermédio de Shawn Johnson.
A melhor chinesa foi Yang Yilin, que ganhou a medalha de bronze.

Natação: Phelps vezes seis (e 12!)

Entretanto, aqui ao lado, no «Cubo», mais um dia normal de trabalho para Michael Phelps: nova vitória e com recorde do mundo.
Desta vez, foi nos 200 metros estilos,com um novo recorde de 1:54.23. É a sexta medalha de ouro de Phelps nestes Jogos e a 12.ª da sua carreira.

Ginástica: A batalha do solo

Começou agora a quarta e última rotação da final do concurso individual de ginástica feminina. À frente da classificação está a norte-americana Nastia Liukin, com 47,800 pontos, seguida da chinesa Yang Yilin (com 47,650) e da também norte-americana Shawn Johnson (com 47,200). As três vão agora fazer os exercícios no solo. E, ao som da música, as medalhas serão decididas. Grande espectáculo em perspectiva.

Governo: Laurentino Dias ainda acredita em três medalhas para Portugal


O secretário de Estado do Desporto afirmou ontem à noite que ainda acredita que a missão portuguesa aos Jogos de Pequim «consiga igualar os melhores resultados de sempre», abrindo, dessa forma, a possibilidade de se ganharem três medalhas na segunda semana de competições.
Para repetir as três medalhas conquistadas em Los Angeles-84 (uma de ouro e duas de bronze) e em Atenas-2004 (duas de prata e uma de bronze), Laurentino Dias confia nos atletas mais experientes, embora se tenha recusado a referir nomes para não criar pressões desnecessárias. «Há um grupo de atletas com grande experiência e capacidades conhecidas que, até ao final, vão transformar a presença de Portugal nestes Jogos numa presença positiva», afirmou.
Num encontro com jornalistas portugueses num restaurante de Pequim, Laurentino Dias reafirmou que Portugal está representado nestes Jogos «com o melhor conjunto de atletas de sempre»
Para Laurentino Dias, os resultados abaixo das expectativas, durante a primeira semana, devem-se unicamente ao facto de os Jogos Olímpicos serem «a competição mais exigente do Mundo».
(Foto: Carlos Alberto Matos/COP)

Ténis: o 'annus horribilis' de Federer

Na cerimónia de abertura, Roger Federer entrou no estádio olímpico como porta-estandarte da selecção suíça e recebeu uma das maiores ovações da noite. Ao meu lado, uma jornalista dinamarquesa comentou: «É a grande vitória dele no ano em que está a perder tudo, receber hoje os aplausos dos chineses.»
Ela, pelos vistos, já adivinhava o que se ia passar. Ontem, nos quartos-de-final, Federer foi eliminado pelo norte-americano James Blake e vai ter que fazer as malas e ir para casa. E nem foi preciso cruzar-se com Rafael Nadal... que pode ter, agora, o caminho ainda mais livre para ajudar a escrever mais um capítulo do livro do «ano de ouro» do desporto espanhol.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Ginástica: Yang Wei cumpre o destino

Vinte mil pessoas em silêncio. De repente, no meio da excitação geral, baixam-se as bandeiras e todos os olhares se fixam no aparelho da barra fixa, onde Yang Wei vai iniciar o seu exercício final. A tensão é máxima. Momentos antes, outro dos grandes favoritos à medalha de ouro, e grande especialista neste aparelho, o alemão Fabian Hambuechen, tinha caído, hipotecando um lugar no pódio.
Yang Wei encontrava-se na mesma situação que em Atenas 2004. Só não podia falhar, como lhe tinha acontecido na capital grega, acabando por ser relegado para o sétimo lugar.
Apesar de ser o atleta mais experiente nesta final, nota-se que ele também sente a tensão e, talvez, o nervoso. Por alguma razão, os momentos antes da prova tinham sido passados com o seu treinador a massagar-lhe as costas.
Durante as poucas dezenas de segundos do seu exercício é quase possível ouvir a sua respiração no meio do pavilhão. O barulho das suas mãos na barra é distinguível, pelo menos.
Yang Wei optou por não arriscar, ele que é conhecido por tentar sempre as manobras mais difíceis. Neste caso, com uma vantagem confortável, arriscou o mínimo. Foi uma prova simples, apenas com uma ligeira hesitação. Nela, o ginasta chinês teve a sua pior classificação de todo o concurso (apenas 14,775, quando tinha obtido, por exemplo, 16,559 no salto de cavalo e 16,625 nas argolas), mas o suficiente para ganhar, finalmente, a medalha de ouro. Aí, as 20 mil pessoas abandonaram o silêncio e entregaram-se à festa. Yang Wei tinha cumprido, finalmente, o seu destino... de ouro.

Ginástica: Tensão no máximo

Ao fim da quinta rotação, o chinês Yang Wei já lidera, de forma confortável, o concurso individual de ginástica. Para ganhar a medalha de ouro só lhe falta fazer uma boa prova no aparelho final, a barra fixa - precisamente a prova onde, em Atenas, tinha a medalha de ouro quase na mão, mas caíu e acabou relegado para o sétimo lugar. Será que, desta vez, não vai falhar? Como irá Yang Wei lidar com toda a pressão que se sente neste enorme auditório, com 20 mil lugares sentados?

Ginástica: Um país a puxar por Yang Wei


Grande excitação no Pavilhão da Ginástica, esta manhã, completamente lotado para assistir à final do concurso individual masculino. Depois das vitórias das equipas chinesas, em femininos e masculinos, agora todas as atenções estão concentradas em Yang Wei, um ginasta de 28 anos, na sua terceira presença olímpica (medalha de prata em Sydney) e que ganhou os dois últimos campeonatos do mundo.
Ao fim de três dos seis aparelhos, Yang Wei está em segundo lugar, atrás do coreano Yang Taeyoung. Mas foi o resposável pela maior ovação do dia, após uma prova fantástica nas argolas, que fez o pavilhão levantar-se em peso para o vitoriar.
Está um ambiente fantástico. E percebe-se porquê: o espectáculo é incrível, com os melhores ginastas do mundo a tentarem, todos, dar o seu melhor.

Natação: Kitajima histórico

O japonês Kitajima Kosuke alcançou hoje um resultado histórico ao tornar-se o primeiro nadador a vencer os 100 e os 200 metros bruços em dois Jogos Olímpicos consecutivos.
Katajima conseguiu o seu segundo título em Pequim, esta manhã, ao vencer os 200 metros bruços, com um recorde olímpico de 2:07.64.
Na segunda-feira, ele já tinha ganho os 100 metros bruços, estabelecendo um novo recorde mundial.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Pequim: A hora de Vanessa


Quando muitos portugueses se estiverem a deitar no próximo domingo à noite, Vanessa Fernandes vai estar a acordar para o dia para que se tem preparado ao longo dos últimos sete anos. Nâo é exagero, foi com o objectivo Pequim 2008 que ela deixou a casa dos pais, no Perosinho, e foi viver para o Centro de Alto Rendimento, no Jamor, onde passou a ser treinada diariamente por Sérgio Santos.
Agora, o dia está a chegar e... «a Vanessa está em pulgas para que a prova comece», diz o seleccionador nacional de triatlo.
E por aquilo que já foi dado perceber, nomeadamente no encontro que a Federação de Triatlo promoveu com os jornalistas portugueses enviados a Pequim, a prova está mais do que preparada e programada pela equipa portuguesa.
Vanessa está numa forma física fantástica, tem os vários cenários na cabeça e as estratégias a utilizar em cada situação, conhece bem o percurso (já aqui competiu e ganhou por três vezes) e, a apoiá-la vai ter, ao longo do percurso, seis elementos da Federação de Triatlo, equipados com rádios-transmissores, para lhe irem dando as indicações necessárias.
Ninguém sabe o que vai suceder na segunda-feira, a partir das 10 horas da manhã (3 em Portugal...), porque o desporto é, como sabemos, imprevisível. Mas o que se sabe, neste caso, é que se fez tudo o que era possível para proporcionar a Vanessa Fernandes a melhor prova possível. E que ela também está com vontade de dar tudo: «é entrar a matar e acabar a morrer!». A hora da verdade está a chegar. Após sete anos de preparação.
(Foto: Carlos Alberto Matos/COP)

Pequim: O mistério do Parque Olímpico




Numa cidade em que se anda sempre no meio de multidões, o Parque Olímpico, onde se concentram os principais locais de competição, é um autêntico mistério: quase não tem ninguém.
Ao contrário do que sucedeu, nomeadamente, em Atlanta, Sydney e Atenas (para só referir aqueles em que tenho conhecimento presencial), aqui as lojas e pavilhões dos principais patrocinadores encontram-se com poucas pessoas. Nem sequer é necessário formar fila à porta. E nas áreas livres, junto às tendas de bebidas, há sempre lugares vagos. Nalgumas zonas, este até parece um parque... fantasma.
A situação começa a preocupar os responsáveis do Comité Olímpico Internacional, pressionados, naturalmente, pelos seus patrocinadores que vêem o seu investimento comprometido com a ausência de «clientes».
A explicação para a ausência de pessoas parecer estar relacionada com a dificuldade em comprar os passes de um dia para o Parque Olímpico - assim, só lá andam os sortudos que conseguiram bilhetes para as competições. Ao que parece, os organizadores chineses não incentivaram a compra dos passes, por razões de segurança, como forma de evitar grandes multidões.
Mas, perante a pressão do COI, isso deve mudar em breve, em especial a partir de sexta-feira quando o estádio entra em pleno funcionamento com o início das provas de atletismo. Até porque candidatos ao passe não devem faltar, tendo em conta as multidões que continuam, todos os dias, a aglomerar-se do outro lado da vedação. A olhar para o «Ninho», o «Cubo» e o deserto em redor.

Natação: Michael Phelps com cinco medalhas

Michael Phelps acabou de entrar para a história dos Jogos Olímpicos ao tornar-se o atleta com mais medalhas de ouro de sempre. Esta manhã, no «Cubo de Água», o nadador norte-americano começou por vencer os 200 metros mariposa (com 1.52.03, novo recorde mundial) e, cerca de uma hora depois iniciou a estafeta de 4x200 metros livres de uma forma extraordinária, deixando aos seus companheiros um avanço de cerca de quatro segundos. Ryan Lochte, Ricky Berens e Peter Vanderkaay continuaram a afazer aumentar esse avanço sobre as restantes equipas, tornando-se a primeira selecção a baixar da barreira dos sete minutos, com um recorde mundial de 7.03.24 (tirando quase cinco segundos à anterior marca!).
Neste momento, Michael Phelps já ganhou cinco medalhas de ouro em Pequim (todas com recordes mundiais), elevando o seu total para onze (tinha ganho seis em Atenas).
Mas ainda lhe falta bater o tal recorde das sete medalhas nuns mesmos Jogos, do seu compatriota Mark Spitz, em Munique-72. Se continuar imbatível, esse feito ocorrerá no sábado de manhã. E, finalmente, no domingo poderá ganhar a sua oitava medalha em Pequim, na estafeta de 4x100 metros estilos.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Judo: Balanço aquém das expectativas

O chefe da delegação de judo, Frederico Salgado, considerou que a participação portuguesa nos Jogos Olímpicos de Pequim «foi positiva, embora tenha ficado abaixo das expectativas».
«De uma forma global, os resultados não espelham o valor dos atletas que trouxemos», considerou, referindo-se, nomeadamente à vice-campeã do mundo, Telma Monteiro, e ao campeão europeu, João Neto, ambos classificados em 9.º lugar, tal como Pedro Dias.
A melhor classificação acabou por ser a de Ana Hormigo (7.º lugar), a atleta sobre quem havia menos expectativas e com classificação mais baixa no ranking.
«Embora ainda seja cedo, penso que, apesar de tudo, de uma forma global o judo vai conseguir dos resultados mais honrosos de Portugal nestes Jogos. Não sei que outras modalidades vão conseguir ter quatro atletas entre os 10 primeiros e um outro em 11.º lugar», considerou ainda Frederico Salgado.
João Neto, apesar de se mostrar desiludido com a sua classificação (tinha sido 7.º em Atenas), tentou manter o pensamento positivo: «Claro que não estou contente, mas se olhar para o que fiz no último ano e meio, em que me tornei campeão da Europa e liderei o ranking mundial, acho que só tenho que me sentir orgulhoso.»
Embora considere que a arbitragem foi prejudicial para outros atletas - nomeadamente para com Telma Monteiro e João Pina - o judoca não sente razões de queixa no seu caso.
«A decisão dos árbitros no combate com o coreano foi justa. Depois, no último combate, a culpa foi só minha. Tive um momento de descontração e isso é fatal a este nível - o polaco pegou-me e projectou-me», contou.

Judo: João Neto em directo (8)

Começou o combate.
João mantém o olhar concentrado, mas vê-se que está cansado.
Bom ataque, ao fim do primeiro minuto.
Perdeu por ippon, num golpe perfeito de Krawczik. O fim de um sonho. E o fim da participação do judo português nestes Jogos Olímpicos. Com mais um 9.º lugar.

Judo: João Neto em directo (7)

João Neto vai defrontar, dentro de poucos momentos, o polaco Robert Krawczyk para poder continuar a lutar pelas medalhas. Agora, no entanto, já só pode aspirar à de bronze.
Krawczyk foi quinto em Atenas e, tal como João Neto, também já foi campeão europeu. Mais um combate muito duro e dificil em perspectiva.

Judo: João Neto em directo (6)

«A decisão do árbitro foi justa. O João Neto e o coreano estavam os dois muito cansados e os árbitros, nessas alturas, tentam acabar o combate o mais depressa possível. O que sucedeu foi que o coreano fez três ataques consecutivos, sem que o João respondesse. Assim, os árbitros decidiram bem.»
- A visão de Telma Monteiro após o combate. Fala quem sabe

Judo: João Neto em directo (5)

Campeão europeu e campeão asiático já estão no tapete.
Está a ser muito duro. Mas João Neto ataca mais. E Michel Almeida não para de dar indicações e de o incentivar.
Choque de titãs, autenticamente.
João Neto parece cansado. Estará mesmo?
Faltam 1,15 minutos e continua tudo a zero.
Faltgam 45 segundos. Tudo a zero
O combate termina sem ninguém conseguir pontuar.
Vamos a prolongamento: mais 5 minutos. Ganha quem pontuar primeiro.
Nervos em franja. Choque muito igual.
Faltam 3.11 minutos para o fim (isto nem a penaltis lá vai)
Estão os dois estoirados. Um combate incrtivel.
Mas João Neto perde por decisão dos arbitros. Por passividade.
É duro. Custa muito perder assim.

Judo: João Neto em directo (4)

Já está encontrado o próximo adversário: o temível sul-coreano Kim Jaebum, que acabou de vencer o polaco Krawczyk, por ippon, a 15 segundos do fim do combate.
Kim Jaebum é campeão asiático e venceu também a Super-Taça, em Hamburgo. Anteriormente, quando combatia na categoria de menos 73 quilos, também tinha sido campeão asiático e campeão mundial de juniores, em 2004. Ao contrário do João Neto, esta é a sua primeira presença nos Jogos Olímpicos. E tem, por aqui, uma forte claque de apoio.

Judo: João Neto em directo (3)

Há mais de cinco minutos que Neto e Cardenas aguardam a entrada em cena, à boca do recinto, mas os combates femininos de menos 63 quilos estão demorados.
João Neto cai conversando com o treinador, Michel Almeida.
Entram agora para o tapete 2.
Fantástico, nova vitoria por ippon em 1 minuto e meio!!!!!!!!!
É hoje, é hoje!

Judo: João Neto em directo (2)

Dentro de momentos, João Neto vai defrontar o cubano Oscar Cardenas para decidir qual deles irá à final da sua série. Em termos de currículo, Neto tem mais títulos e melhor palmarés. O cubano apenas tem, como cartão de visita, um segundo lugar na Taça do Mundo de Tiblisi, em 2006, um terceiro lugar na Super-Taça de Hamburgo, no mesmo ano. Neto é o campeão europeu, já ganhou duas provas da Taça do Mundo e registou várias outras subidas ao pódio. Curiosamente, ambos ficaram em 39.º lugar nos Mundiais de 2007, no Rio de Janeiro.
Atenção que o cubano pode ter uma motivação suplementar: celebrou ontem 22 anos.
Mas João Neto parece muito concentrado. Mesmo depois da segunda vitória não perdeu o olhar de «matador». Isso é bom.

Memória: Aquele 12 de Agosto de 1984


Em tempo de Jogos Olímpicos convém recordar estas coisas: há precisamente 24 anos, a 12 de Agosto de 1984, Carlos Lopes entrou triunfalmente no Estádio Olímpico de Los Angeles para ganhar a primeira medalha de ouro da história de Portugal. Foi uma vitória tão extraordinária que o tempo então realizado ainda se mantém, quase um quarto de século depois, recorde olímpico - e isso será devidamente assinalado, no painel electrónico do estádio quando se correr a maratona aqui em Pequim.
Mas o que gostava de salientar, tendo em conta o que está a ser a prestação portuguesa nestes Jogos, é o exemplo de perseverança, dedicação e talento de Carlos Lopes, que chegou a campeão olímpico aos 37 anos. Agora, todos o recordamos pelo seu feito em Los Angeles, mas é preciso não esquecer que a sua história olímpica começou 12 anos antes em Munique-72. Aí, Lopes correu os 5 000 e os 10 000 metros e, em ambas, classificou-se em 9.º lugar (tal como Telma Monteiro e Pedro Dias agora...). Quatro anos depois, em Montreal, ganhou a primeira medalha do atletismo nacional, a prata nos 10 000 metros. Mas perdeu o ouro. E tal como ele disse, muitos anos depois: «Foi aí que comecei a ganhar a maratona de Los Angeles.». Ou seja, foi no dia em que perdeu que pôs mesmo na cabeça que ainda iria ser campeão olímpico. E trabalhou para isso como mais ninguém. Conseguiu-o. Há precisamente 24 anos. Uma história inesquecível.

Judo: João Neto em directo

Depois de vencer o primeiro combate frente ao georgiano Gavashelish, João Neto defronta agora o albanês Topallie.
E o combate demorou, mais ou menos, o tempo que demorou a criar este post: vitória, por ippon, em apenas um minuto.

Natação: Phelps entre os grandes

Grande excitação, esta manhã, no «Cubo de Água», com Michael Phelps a vencer os 200 metros livres (com novo recorde do mundo, obviamente) e a ganhar a sua terceira medalha de ouro em Pequim. Contas feitas, aos 22 anos, Michael Phelps tem já um total de nove medalhas de ouro em Jogos Olímpicos, um feito apenas partilhado pela ginasta Larissa Latnyia, o finlandês Paavo Nurmi, e os norte-americanos Carl Lewis e Mark Spitz. Hoje está entre os grandes, amanhã será o maior!

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Pequim: A cidade dos filhos únicos






É uma das imagens e realidades mais fortes, ao fim de alguns dias em Pequim. Quando se passeia por qualquer jardim ou se vai a um restaurante, há sempre alguém com crianças. Mas apenas uma criança. O local mais evidente é o Jardim Zoológico de Pequim, onde tirei estas fotos. Fui lá para ver os ursos pandas, mas acabei fascinado a ver o amor, o carinho e a dedicação que estes pais e mães dedicam aos seus filhos, tratando-os como pequenos tesouros. Chega a ser comovente. E posso afirmar que ao fim de quase duas semanas em Pequim ainda não vi um pai ou uma mãe a ralhar com um filho ou a repreendê-lo.

Jogos: Os Bush foram ao basquete


No China-Estados Unidos em basquetebol, no domingo à noite, esta era a bancada que dominava as atenções nos intervalos do jogo. Quando não havia Yao Ming ou Kobe Bryant para ver, todos os olhares se voltavam para a tribuna dedicada à família olímpica, que é onde ficam os membros do Comité Olímpico Internacional e os seus convidados. Nesta noite, lá estava o ministro dos Negócios Estrangeiros da China, acompanhado de dois George Bush, o pai e o filho. Na fila de cima, de cabelo branco, ainda se vê um pouco do perfil de Henry Kissinger. E na fila de baixo está Fernando Bello, o representante de Portugal no Comité Olímpico Internacional.

Aldeia Olímpica: A livraria... artística


Na zona internacional da Aldeia Olímpica - o espaço onde os atletas, convidados e jornalistas se podem cruzar, com menos medidas restritivas que a zona residencial - existem uma série de serviço e lojas: um mini-mercado, um banco, uma loja dos correios, outra de computadores, um cabeleiro, um centro de aprendizagem de chinês, uma agência de viagens e uma livraria.
Não é grande coisa a livraria, mas sempre é um dos locais onde se podem comprar alguns jornais estrangeiros (o «South China Morning Post», de Hong Kong, no próprio dia, os outros europeus ou americanos com uns dias de atraso), umas revistas e apreciar os livros que se expõem nas poucas prateleiras do espaço. São quase todos sobre a China e a cultura chinesa: livros de viagens, de filosofia, sobre gastronomia, costumes, medicina tradicional e, numa prateleira inteira, uma secção dedicada ao «nu artístico». Isso mesmo: uma série de livros de fotografia, com bom ar, mas só modelos nus.
A graça é depois ficar por lá um tempo, a ver os representantes de alguns países que, discretamente, se dirigem à prateleira para ver coisas proibidas nos seus países. Os chineses às vezes têm coisas esquisitas!