terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Homenagem: Mo Greene deixa as pistas

Competitivo, fanfarrão, mas sempre extremamente simpático e quase até gentil com os adversários, público e jornalistas, Maurice Greene marcou uma época no atletismo. E até um estilo. Na transição entre o século XX e o XXI, ele representou o modelo ideal do velocista: um tipo ligeiramente baixo, musculoso e que, quando corria, parecia apenas tocar levemente na pista, quase a voar baixinho. Os tempos, entretanto, mudaram e não admira, por isso, que Greene tenha agora anunciada a sua retirada das pistas (e a sua auto-exclusão de Pequim 2008), após uma sucessão de lesões preocupantes, mas também da entrada em cena de uma nova geração de velocistas que parecem ser, fisicamente, o seu oposto: tipos, como Obikwelu (ou Asafa Powel e Tyson Gay) magros, esguios e com uma passada demolidora.
Mas pense-se o que se pensar de Maurice Greene, de uma coisa ninguém tem dúvidas: a sua vitória nos 100 metros dos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000, ficará, para sempre, como uma demonstração ímpar de classe e confiança. E isto é algo que jamais será apagado da memória olímpica.
Chegou à Austrália como favorito e, em todos os momentos, mais não fez do que confirmar o inevitável: naquela época não tinha rivais à altura.
Naquele período, ele era o vencedor incontestável de todas as provas de 100 metros, o único capaz de roubar o «show» em qualquer momento na corrida do hectómetro, de fazer as delícias dos fotógrafos quando cortava a meta e deitava, num misto de gozo e provocação, a língua de fora - uma imagem que ficou gravada nas multidões como uma espécie de cartão de visita do velocista norte-americano. Era até o único homem no planeta que tinha a coragem de desafiar Michael Johnson nos 200 metros (prova que, infelizmente, nunca tiveram a oportunidade de disputar em simultâneo ao mais alto nível).
No entanto, não deixa de ser curioso que o ocaso de Maurice Greene tenha começado precisamente no momento em que outros lhe começaram a roubar o show. E, nesse campo, há uma data incontornável: 22 de Agosto de 2004, o dia da final olímpica dos 100 metros, quando Francis Obikwelu, antes do tiro de partida, começou a ouvir a música de «Zorba», de Mikis Teodorakis, e desatou a dançar no meio da pista, empolgando a assistência grega. De forma quase automática, Maurice, o «dono do show», ficou arredado do primeiro plano - os olhares e a simpatia concentraram-se na figura do nigeriano que, pouco tempo antes, tinha abraçado a nacionalidade portuguesa. Estupefacto, Maurice Greene ficou furioso e... confuso. Como era possível um novato e desconhecido como Obikwelu estar ali, naquele momento, a desafiá-lo, ainda para mais no seu terreno favorito?
O resultado final ficou, quase de certeza, «impregnado» desses sentimentos: Obikwelu bateu Greene por um centésimo de diferença. (A medalha de ouro foi, no entanto, para Justin Gatlin, um norte-americano que, entretanto, foi suspenso das competições por ter dado positivo num controlo anti-doping e que, por isso mesmo, não merece ser aqui referido como vencedor, independemente da versão oficial).
A verdade é que não voltaremos a ver Maurice Greene a voar nas pistas, desafiando, com o seu ar matreiro e provocador, os matulões com que partilhava as pistas. Mas, ao contrário de muitos outros, vamos recordá-lo por muitos e longos anos. Os (verdadeiros) campeões são eternos - como os diamantes!

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